O Advogado e o Orador.
Como é gostoso ouvir quem sabe falar e monopolizar a plateia. Falar parece ser um dom dos ungidos porque extasia quem ouve; não importa o local e nem a ocasião, o orador é sempre bem aceito quando fala.
Como estudante do Curso de Direito tive que enfrentar o latim no vestibular, porque era exigência conhecer o conteúdo da oratória do grande Cícero, célebre senador Romano, quando atacava os senadores Catilina e Verrina que ele considerava traidores e corruptos.
Contudo nos cinco anos de faculdade nunca tive uma única aula em que aprendesse a falar em público. Mas até hoje é comum no seio familiar, quando de uma comemoração festiva, um tio, tia ou aquele primo chato pedir para quem é acadêmico de Direito, fazer uso da palavra:
- E para saudar a aniversariante da noite, a querida vovó Gioconda, vai ouvir o estudante de Direito da família: o João!
É aquele momento em que o João tem vontade de correr em direção ao banheiro. Coitado, nunca aprendeu como falar em público.
- Não! Eu não consigo que fale o Márcio...
- Nada disso! - retruca o primo agourento - Você faz Direito e o Márcio, Medicina! Você tem que falar!
E o Márcio sem nenhum acanhamento fala sem nenhuma preocupação pelo que está dizendo. É sempre assim: médico fala nestas ocasiões e às vezes nem é preciso pedir. Parece que é na escola de Medicina que tem aula de oratória.
Pelo menos era assim quando na minha turma de “pelada” que congregava profissionais do Direito, Médicos, Engenheiros e empresários os esculápios eram sempre os oradores e dentre eles se destacava o Prof. Afonso, renomado neurocirurgião, seguido por seus ilustres colegas.
A turma do Direito eram os últimos a falar. Não sei se tem explicação lógica para isto. É por força da atividade profissional que o Operador do Direito aprende (nem todos) a falar em público, lendo ou de improviso.
O Juiz por ser o presidente do processo é quem começa e termina às audiências, preside o Tribunal do Júri e tem a representatividade do Poder Judiciário para falar nas comemorações cívicas. Uns logo se desinibem e outros nem tanto. Os Promotores de Justiça com atuações em salas de audiências e nas sessões do Tribunal do Júri aprendem “na marra” a falar e defender seus pontos de vista.
E o Advogado com atuação exclusiva no cível fala bem menos do que aquele da esfera criminal, embora com igual desembaraço. Em outras palavras: quem gosta de falar, fala; quem prefere mais escrever, fala por necessidade.
Os primeiros fazem do Júri o melhor palco para suas atuações e não foram poucos os que se destacaram com grandes atuações. Cito alguns que minha memória alcança: Alcides Munhoz Neto; Eros Gradowski; Elio Narezi; Rene Ariel Dotti; Eduardo Corrêa Braga; Ronaldo Antônio Botelho; Luiz Chemim Guimarães; Newton Marcos Carias de Oliveira; Otto Sponhoz; Osman Santa Cruz Arruda; Wagner Brussulo Pacheco; Munir Gazal; Salvador de Maio; Mauro Viotto; Milton Luiz Pereira; Jerônimo de Albuquerque Maranhão; Newton Bussi; Henrique Chesneau Lenz Cesar; José Rodrigues Vieira Neto; Vieira Lins e Celita Alvarenga Bertotti.
Todos os oradores de nomeada que se destacaram nas lides forenses. E ninguém aprendeu a falar em qualquer sala de aula da Faculdade de Direito. Enfim, o orador é aquele que fala porque gosta e se sente bem, é comedido, discreto e determinado. Nada lhe subtrai a atenção, nem um aparte malicioso e provocador; tem o domínio perfeito da palavra e alvo certo e determinado.
São figuras especiais por fazerem da oratória uma mensagem inesquecível. Padre Antônio Vieira com seus sermões deixou lições inesquecíveis de vida e santidade. O dom da palavra é uma arte que se protrai no tempo, não é para todos, só para aqueles que têm a sensibilidade da própria alma...
“A arte da oratória não é apenas técnica e treino mental; é dom quase divino que o ser humano tem para se expressar e comunicar. É a palavra sonora que atrai como imã, mas também serve de estopim de guerra. Depende sempre do teor do discurso e da grandeza de quem fala!”
Edson Vidal Pinto