O Ano Morto
Se eu pudesse bem que gostaria de encontrar o mais Sábio dos homens para lhe fazer uma única pergunta:
- Que ano foi este que está terminando?
Sim, porque a partir de hoje estão faltando cento e trinta e quatro dias para iniciar o ano de 2.021 e pelo visto o planeta azul parece que permaneceu o tempo todo parado. É verdade que teve noites e dias; frio e calor; erupções vulcânicas; tsunamis; maremotos; tornados; secas e vendavais. Mas faltou a alegria de pessoas nas ruas das grandes cidades, aviões repletos de turistas voando sem parar, navios de luxo singrando os mares, praias lotadas de banhistas e o movimento incessante dos trabalhadores na sua faina diária.
No entanto as pessoas sumiram, ficaram recolhidas e temerosas, só mesmo os que precisavam sair para rua é que tiveram de enfrentar o risco de adoecer. O ano perdeu desde o início o seu brilho na medida em que a imprensa fomentou o desespero ao espalhar notícias de morte causadas pelo Covid-19, um vírus indomado e fatal. Daí a crise política que gerou dúvidas e incertezas. A terra parece que diminuiu seu movimento de rotação e os dias ficaram mais longos, preguiçosos e sem ritmo. Os seres humanos perderam a noção do que fazer, dizer e só podiam esperar que aparecesse uma luz dando esperança e apontando uma saída.
E nestes momentos repetitivos de ansiedade e sem saber como fazer para vencer o próprio medo as pessoas entristeceram e ficaram acuadas nos seus próprios e diminutos mundos. Os espaços percorridos pouco passaram dos limites da própria residência e os familiares se afastaram uns dos outros -, as relações sociais esfriaram e o distanciamento obrigatório passou a ser uma tortura. Que ano difícil é este que engatinha sem forças, parecendo que não quer terminar e que teima em continuar com sua sina de maldades.
Maldades sim, pois trouxe um vírus mortal que perdura sem arrefecer, ceifando vidas e impondo tristezas. Será um ano que vai ficar na memória daqueles que procuram na vida dar alegria e olhar o futuro com otimismo, porque estão vivenciando momentos amargos como se a terra tivesse adormecido. E o que fazer se o tempo não quer passar?
Enquanto envolto nas minhas próprias elucubrações e buscando encontrar uma justificativa lógica para responder a indagação inicial, sinto que alguém tocou no meu ombro direito, fazendo com que eu me virasse e visse uma criança, pedindo para falar:
- Tio, não foi o ano que fez o tempo parar; o ano não tem culpa de ter aparecido o vírus, nem de ter eclodido uma crise políticas para piorar a situação ...
- Como? O que você está dizendo?
- Estou dizendo que o ano de 2.020 foi um ano igual aos outros, os seres humanos é que pararam.
- Sim, mas pararam por necessidade ...
- Não! Pararam pelo egoísmo e falta de solidariedade; o vírus apenas veio para unir todos na busca de uma saída...
- ?
- Mas a humanidade ao invés de falar uma mesma língua resolveu inventar a vacina tendo que passar pela Torre de Babel ...
“ Nem na hora crítica de uma pandemia que mata, os seres humanos conseguem ser solidários. E assim o ano de 2.020 continua sua marcha igualzinho a todos os demais anos; só as pessoas mudam para pior!”
Edson Vidal Pinto
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