O Bairro dos França
A pandemia da COVID-19 mudou os hábitos no mundo todo porque restringiu o convívio social e por consequência impediu viagens e encontros festivos. Só agora depois da vacinação em massa e com muita cautela parece que o pior já passou e daqui alguns poucos meses será possível planejar viagens mais distantes, claro se o dólar permitir e a inflação sossegar. Por enquanto nem para o nordeste do Brasil dá vontade de viajar porque os preços dos hotéis também estão dolarizados e pela hora da morte.
E viajar para depois pagar pelo financiamento é um risco sem tamanho por causa da situação econômica do país. O recurso é viajar para as nossas praias do Paraná ou de Santa Catarina na tradicional época de veraneio para curtir a família e reencontrar velhos amigos. Mas por enquanto antes de abrir a temporada de férias o jeito mesmo é sentar na minha poltrona preferida, fechar os olhos e lembrar de viagens inesquecíveis. E não foram poucas dentro e fora do país. Pergunto : alguém conhece o Bairro dos França ? Com certeza não, não é mesmo ? Quem um dia percorreu a Rodovia do Café passou sem notar ou parou e abasteceu o carro no único posto de gasolina do local ou então comeu alguma coisa no restaurante anexo.
O lugarejo em questão está localizado entre as cidade de Ortigueira e Mauá, esta situada no alto da Serra do Cadeado. Com certeza alguém que está lendo esta crônica perguntará : “E daí , o que tem de especial na localidade?” Garanto que não tem a Torre Eiffel, nem o Coliseu e muito menos as Cataratas do Rio Iguaçu ! Nada em especial para nenhum viajante, mas para mim tinha algo muito significativo porque era ali, sob a sombra de uma árvore frondosa, que eu parava meu carro para a alegria de minha mulher e de meus dois filhos pequenos. A viagem de Curitiba para Umuarama onde eu era Promotor de Justiça e morava com a família tem a distância de 610 quilômetros, e a parada estratégica para descanso era justamente sob frescor daquela árvore do Bairro dos França.
Tanto para ir ou para voltar e tornar a viagem mais prazeirosa a parada era tudo de bom, pois além de esticar as pernas, minha mulher abria um farnel contendo frango, farofa, pão e refrigerante que era o nosso almoço. Os meninos depois chutavam bola num gramado ao redor do carro, sob os olhos atentos da mãe, e eu aproveitava para tirar um rápido cochilo. Depois era seguir viagem até chegar em nossa casa em Umuarama ou até o nosso apartamento em Curitiba. Para capital só no período de férias forense.
É por isto que lembro com saudades daquele pequeno local, beira de estrada, com poucos habitantes e agora sem aquela árvore que nos abrigava com a sua enorme sombra. Numa das viagens que fiz anos atrás na condição de Presidente do Tribunal Regional Eleitoral percorri o referido trecho e não encontrei mais aquela árvore, pois no seu lugar foi construída mais uma casa. Depois não viajei mais de carro pela região mas com certeza não esquecerei nunca daquela árvore que ainda me faz sonhar …
“É prazeiroso quando nos sentimos bem; reunidos em família e consciência tranquila. Não importa estar numa cidade do mundo, num outro continente, no meio do mar, no alto da montanha ou em um lugarejo de poucas casas. Pois são os momentos que nos fazem felizes pouco importando o lugar.”
Edson Vidal Pinto
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