O Boca Santa.
Antes mesmo de minha promoção para Curitiba nos períodos de férias forense, quando então Promotor de Justiça em comarcas do interior do estado eu participava nos sábados à tarde, no campo de areia da Cia. de Guarda do Governador nos fundos do Palácio Iguaçu, da “pelada” ditatorialmente chefiada pelo saudoso Dr. Antero da Silveira, Procurador de Justiça.
Dentre os atletas de finais de semana muitos desembargadores, juízes, membros do Ministério Público, advogados, médicos, engenheiros, empresários e dentistas. E pela heterogeneidade de profissões para evitar o caciquismo dentre os mais ilustres graduados imperava sempre a palavra e as ordens do Dr. Antero, que além do “dono” da bola também era “dono” das camisas e o único responsável pelas escalações dos times.
Na época poderia existir alguém que mandasse igual a ele nas varias peladas espalhadas em Curitiba, mas certeza ninguém mandava mais que o nosso poderoso Chefe. Tanto que o grupo tinha até nome:- CPLA (Clube dos Profissionais Liberais do Antero).
Dentre os “atletas” cito alguns: Desembargadores Caxuba (Nininho), Andreguetto, Afinho; Juízes Theodoro Cruz Neto, Edgar Winter, Fagundes, Ivo Fortes, Joatan Carvalho e Michael Farah; do Ministério Público Carlos Dissenha, Daniel Romaniuk, Dirceu Cordeiro, João Carlos Madureira, João Carlos Rodrigues Gomes, Joel Carneiro, Lourival Leite Bastos, Rene Kravetz e Ronaldo Botelho; advogados Eduardo Rocha Virmond, Josino Sabóia Netto, Benedicto Moreira, Celso Albuquerque, Josafa Lemes, Manoel José Carneiro, Marival Carvalhal Santos, Osmar Dargel Pereira, Ricardo Bueno, Romário Terramoto e Ruimi Prigol; médicos Afonso Antoniuk, Artur Kumer Jr, Cleverson Gracia, Gabriel Pia de Andrade, Gérson Gebert, Guilberto Minguetti, Israil Cat, José Faria Ratton, Luiz Ernâni Madalozzo, Marlus Vinicius Costa, Newton Carvalhal Santos, Octávio Augusto da Silveira, Paulo Andrighetto, Rubens Cat , Sérgio Antoniuk e Rubens de Conti; e ainda Arnaldo dos Reis (Tatinha), João Faraj, Jurimar Cavichiollo, Lauro Arruda, Luiz Otávio Ferrari, Mauro Lacerda Santos, Plácido Jorge , Roman Olijnik e Sérgio Motter.
E ao todo foram quarenta e cinco anos de convivência e ótima amizade, repleto de episódios e lembranças que ainda habita nos corações de alguns remanescentes do CPLA. Peço desculpas por não anotar outros nomes de nossa turma porque fui traído pela memória.
Fiz esta introdução porque de todo o participante ninguém se compara a irreverência e a língua ferina do conceituado médico e professor Gérson Gebert, que além de ótimo futebolista era um “gozador” emérito tendo protagonizado mil e uma histórias que fazem parte da nossa turma de peladeiros.
Tanto é verdade que sendo até hoje frequentador assíduo da “Boca Maldita” recebeu na roda de convivência com seus amigos de calçada o apelido de “Boca Santa”. Pois é, quando sentei na minha poltrona preferida no escritório de meu apartamento para escrever esta crônica diária, lancei os olhos nos livros de minha biblioteca e deparei com um em especial escrito pelo Dr. Gérson Gebert, que é autor de vários outros opúsculos, pois é literato e perspicaz cronista do cotidiano onde conta fatos e cenas que acontecem com seus amigos sem perdoá-los.
O livro em referência publicado pela Editora DPB tem o título “O Boca Santa e as Criancas” que ele dedicou a “todas as crianças do mundo, principalmente àquelas que sofrem e não têm esperança de encontrar quem as ampare”. Só que as histórias que conta são protagonizadas por adultos.
Das sessenta e quatro narrativas escolhi uma delas para ilustrar este meu escrito cujo título é “ADEGA” e está assim escrito: “Já velho, resolveu pôr fim a um casamento sem filhos, que já durava 30 anos. Saiu de casa somente com a roupa do corpo e, por ser litigiosa a separação, não podia se aproximar da casa, por ordem judicial.
Sonhava apenas com sua adega que, por anos, albergou vinhos tintos caríssimos de varias nacionalidades. Era seu hobby.
Oficializado o divórcio, teve o direito de buscar suas coisas na antiga residência.
Ao deparar com a adega vazia, perguntou à ex-mulher:
- Onde estão meus vinhos?
- Fiz sagu! - respondeu a megera, numa estrondosa gargalhada.”
Este é o meu amigo Gérson, o famoso “Boca Santa”, que além de tudo que falam a seu respeito é um médico como poucos...
“Temos a mesma idade, nascidos em dias diferentes do mesmo mês e ano; ele é médico e eu Magistrado. Cultivamos o mesmo hábito de escrever sobre flagrantes do cotidiano. Só que ele é o famoso “Boca Santa” da Boca Maldita do qual desta sou apenas “Cavalheiro”, com a Graça de Deus!”
Edson Vidal Pinto