O Cheiro do Sonho.
Não ando muito no centro de Curitiba, só de vez em quando, porque hoje os bairros são autossuficientes e dispõem de infraestrutura que permitem aos seus moradores suprirem suas necessidades sem precisarem se deslocar de sua região de moradia.
Ademais impera a máxima que sempre devemos prestigiar o comércio local. Mas na semana passada acompanhei minha mulher até as proximidades da Praça Osório, pois ela queria comprar um presente em certa loja das imediações.
E quando caminhávamos na Rua Voluntários da Pátria em direção à Rua Emiliano Perneta, vi o velho prédio de minha querida escola onde aprendi a ler e escrever. Emotivo que sou o meu coração começou a bater forte. E à medida que me aproximava do prédio fui envolvido pela nostalgia rotulada de saudades -, pois da calçada da rua eu vislumbrei as janelas da minha sala do primeiro ano primário e me deixei conduzir pela imaginação.
Logo vi os rostos de meus colegas desfilando entre uma janela e outra, curiosos por me verem passando na rua:
- O que você está fazendo fora da sala? - perguntou o Edison Luiz Barbosa Cubas.
- Ora, agora sou adulto e estou acompanhando minha esposa...
- Você não vem estudar? - desta vez quem perguntou foi o Rubens de Quadros Ribas.
- Mas eu já me formei! - respondi sem graça.
- Mesmo assim entre pelo portão da frente e venha até a nossa sala. - Insistiu o Waterloo Marchesini.
- Já vou entrar.
Como se estivesse pisando em nuvens passei o portão de ferro da entrada e olhei por alguns minutos a fachada do “Instituto de Educação do Paraná” em cujo Anexo funcionava o “Grupo Escolar Alba Guimarães Plaisant”, minha escola onde frequentei o jardim de infância e completei meu curso primário.
Por alguns instantes deparei conversando nos degraus da escada da frente com os professores Bento Mussurunga; Chloris Justen; Justino Favaro; Helena Kolody e Artur Borges de Macedo, todos educadores da Escola Normal. Eles não me viram entrar pois desviei a escadaria e fui ao encontro dos meus colegas.
Na porta da sala quem estava me esperando era a Fany Lerner, a Regina Nascimento e seu irmão Reginaldo. Abracei todos eles e reverenciei minha primeira professora a d. Nely. E como um rodamoinho enxerguei o Sidegley Galdino, o Ari, o Cícero e tantos anos que ficaram perdidos sem nome na minha memória.
Foi um reencontro maravilhoso porque cantamos juntos, recitamos a tabuada e tocamos instrumentos musicais feitos artesanalmente. De repente senti entrar na sala um cheiro delicioso de sonho recheado com goiabada que vinha da cantina, todos nós nos entreolhamos e quando a sineta do final da aula soou, corremos atrás dos nossos “sonhos”.
Esta é a vida: triste quem não tem sonhos e nem momentos para lembrar...
“Quem não lembra da primeira escola e da professora que nos ensinou a ler e a escrever? E dos amigos da sala de aula que vivem nas nossas lembranças? E quem estudou no vetusto prédio do inesquecível Instituto de Educação do Paraná, com certeza lembra do cheiro do sonho de goiabada da cantina; e da canja americana, do “quebra-queixo” e da Bala de Gasosa que eram vendidos na calçada, em frente ao portão de entrada.”
Edson Vidal Pinto