O Confessionário.
Ontem, 15 de fevereiro, quarta feira.
Como Padre sempre obedeci ao comando da Santa amada Igreja. O sacerdócio foi um período de recolhimento e de fé na humanidade. Todos os dias minha meta é servir os pobres que necessitavam de conforto espiritual.
Nunca maculei minha batina até o dia em que fui transferido de minha Paróquia em Prudentópolis para Brasília! Quando lá cheguei o meu Superior me designou para ocupar um dos confessionários da bela Catedral, que depois eu soube que foi projetada por um ateu.
Achei estranho e bizarro, mas quem sou eu para criticar? No primeiro domingo do meu ofício, peguei meu catecismo e me fechei no confessionário na espera do primeiro samaritano.
E não demorou:
- Padre? Foi um sujeito de voz rouca e com certo hálito de álcool, que me chamou.
- Sim, meu filho. Sou todo ouvido.
- Padre, eu não aguento mais...
- Eu sei muito bem meu filho, a vida não está fácil para ninguém não é mesmo?
- Nada disso! Eu não aguento mais o tal do Moro (palavrão). Ele quer me destruir, me aniquilar (palavrão)!
- Calma, meu filho. O que você andou aprontando?
- (Palavrão) até você, Padre? Por acaso você quer que eu confesse nesta (palavrão) de casinha?
- Calma, meu filho. Sossegue, o mundo é bom e as pessoas são boas...
- Boas? (Palavrão). Eu não sei de nada! Estou arrependido de falar com você, me abençoe e damos a por encerrado o nosso papo!
- Mas aqui não é lugar de benção, meu filho. Aqui é lugar para confessar os crimes e os pecados...
- (Palavrão) meu Padrinho Padre Cícero, onde foi que eu fui me meter? Logo aqui para confessar (palavrão)! Deve ser coisa do Moro (palavrão).
Depois um silêncio absoluto.
- Meu filho? Meu filho? Você ainda está aí?
Nenhuma palavra. Abri a portinhola e vi o baixinho se escafeder porta a fora do Santuário. Pensei: que homem estranho, parece que deve ter muita culpa no cartório, pois está endiabrado.
- Ô "seu" Padre?
Voltei de minhas elucubrações sobre o homenzinho bizarro que tinha dado no pé. Agora eu estava ouvindo a voz provavelmente de uma mulher, pois era grossa e com o tom de birrenta.
- Sim, minha filha! Quer confessar os seus pecados?
- Verdade, vigário! Eu quero que você me diga se falei asneira quando disse que era possível estocar o vento ...
- Como? Não entendi muito bem, filha.
- Filha (palavrão) é a (palavrão)!
Em seguida a mulher bateu violentamente a porta do confessionário e desapareceu no meio de um bando do MST. Pombas! Pensei, não dei uma dentro! Que povo diferente de Prudentópolis.
- Meu bom e querido Sacerdote? Ouvi uma voz melodiosa e brejeira própria de um bom malandro e estelionatário. Sem fazer mau juízo ( que Deus me perdoe ) pareceu-me uma voz conhecida, sempre presente no Jornal Nacional.
- Pois não, meu filho !
- Sacerdote, vou lhe propor um negócio entre nós.
Fiquei curioso para saber o que era.
- O Senhor perdoa os meus pecados sem eu me confessar, e eu peço ao Temer o apoio necessário para que o senhor seja o próximo Papa. Que tal? Hoje temos a política toda em nossas honradas mãos e juntamente com o Sarney podemos costurar um "acordão" com demais Cardeais. A proposta não é perfeita?
Com uma proposta desta só pode ser mesmo o Renan...
- Não aceito não, Senador! Você pode mandar na República, mas aqui no meu confessionário mando eu!
Estas foram minhas últimas palavras pronunciadas no Brasil! Neste exato momento estou no Haiti, numa povoação ao sul da capital e no meio da maior fome do mundo. Fui transferido sem saber bem o por que. Minha Paróquia agora é o último lugar onde alguém gostaria de morar.
Só tem gente esfomeada, simples, pecadora mais de bem com a vida. Bem diferente daqueles políticos de Brasília. Lá foi um pesadelo morar e conviver. Aqui sim, é um lugar limpo e de gente bem intencionado, graças a Deus! Ah!
Aqui o confessionário não tem porta e nem precisa de portinhola com véu para separar o confessor do sacerdote. Ninguém pratica tantas barbaridades para precisar esconder o rosto! Esta uma historinha do final do dia, apenas para pensar e refletir...