O Espingarda
Sempre gostei de circo e lamento que não cheguei a assistir o fabuloso “Circo Queirolo” quando estava no auge, com atrações múltiplas que ocupou, segundo contava meu saudoso pai Bernardo, todo o espaço da Praça Carlos Gomes. É claro que a atração principal era o palhaço Chic-Chic e sua cachorra de pano a Violeta, sua companheira permanente presa na coleira e de quando em quando ele gritava “Pula Violeta” e puxava a mesma junto de seus braços. Na época quem contracenava com o Chic-Chic era o também palhaço Espingarda, um homem magro, alto e muito engraçado. Ambos faziam a plateia rir sem parar. E por coincidência quando tinha meus cinco anos de idade o meu pai morava na rua dr. Faivre, umas quatro quadras da Reitoria Federal e bem próximo do Mercado Municipal, onde na casa da frente e do outro lado da rua morava o Espingarda e sua família. Foi o período em que o circo estava em declínio e a família Queirolo passou a residir em Curitiba, juntamente com seus artistas e funcionários. O circo foi diminuindo de tamanho e passou a fazer espetáculos teatrais nas periferias da cidade, tendo, certa feita incendiado e só com muito custo conseguiu a doação de uma cobertura de lona para continuar perambulando de bairro em bairro até desaparecer. A família Queirolo merece toda gratidão e reconhecimento dos Curitibanos, por ter representado muito bem a arte circense e ter se identificado com os hábitos da cidade. O Chic-Chic (Otelo Queirolo) tem até nome de rua no bairro Bigorrilho. E o Espingarda ? Lembro muito pouco dele graças ao meu pai pois quando ele chegava em casa ele me dizia que o “Espingarda chegou”. Um dia ele me convidou para brincar com seu filho menor, no quintal da sua casa. Fiquei maravilhado porque estavam instalados dois trapézios, com rede de segurança embaixo, para o filho brincar. É claro que me pendurei no trapézio e fiquei me balançando sem coragem de pular no outro trapézio. Era sim que começavam os futuros artistas de circo, brincando e treinando no quintal da casa até chegar na adolescência e optar se quer ou não fazer carreira artística. Hoje o circo perdeu muito o publico porque foram proibidos números com animais, a principal atração para as crianças e adultos. Claro que o cinema e mais recentemente a televisão e os jogos eletrônicos roubaram o grande publico do circo, que vive heroicamente desafiando as agruras e perdas econômicas. Muitos artistas que viveram o esplendor e a fase de derrocada do circo não se confirmam porque o espetáculo parou, pois perderam seus meios de vida, e muitas tragédias aconteceram. O palhaço Espingarda foi um dos exemplos, caiu em depressão e acabou num gesto tresloucando tirando a própria vida com um tiro de revólver na cabeça. Hoje àqueles que outrora foram famosos e arrebataram aplausos das grandes plateias são personagens anônimos, pouco lembrados, daí minha singela homenagem ao palhaço Espingarda, aquele que no jargão artístico servia de “escada” para o grande e inesquecível Chic-Chic…
“”O circo chegou, o bairro animou, o leão rugiu, o pequeno assustado chorou, então o pai sentiu, lembranças de criança que o tempo apagou” Ah, quem não gosta de circo é porque
não teve infância ou nunca sonhou. Hoje falta a graça do palhaço, a emoção do trapezista, o sufoco do contorcionista e a magia do Mágico. O riso perdeu a graça, porque alegria evaporou.”