O Frio Vem Aí, Gente!
Desde o último domingo a Imprensa vem se deliciando em abrir espaços para falar do tempo: previsões geladas!
Claro que muita gente gosta do frio, dizem que dá mais disposição, o organismo reage positivamente, dá para usar roupas elegantes e não faltam aqueles que recomendam para uma manhã de geada um ótimo banho frio para esquentar o corpo. Quero dizer que não ouso tomar banho frio nem sob o sol a pino do deserto de Atacama e muito menos nas águas térmicas de Caxambu.
Eu mesmo volto e meio digo que quero me mudar para Anchorage -Alaska, para poder cortar lenha ao ar livre usando uma camiseta cavada de malha ( igualzinha aquelas antigas da Hering), depois quero coar um café quentinho e dar boas caminhadas sobre o neve no meio da mata ou dirigir um trenó puxado por doze cachorros que eu mesmo vou treinar.
Sou corajoso e falo muito quando estou distante do frio, perto sou como flor de estufa: fico murcho! E foi por acaso que procurando um canal de televisão para assistir que sem querer “esbarrei” na Rede Globo, num momento em que o “Fantastico” não espinafrava o Governo Bolsonaro ouvi a Maju falar sobre a previsão do tempo para a semana e ela garantiu que em Curitiba no próximo sábado à temperatura será de um grau negativo.
Pensei com meus botões: está na hora de “desenterrar” minhas ceroulas que eu guardei para hibernar em Ancorache. E como não poderia ser diferente pensei logo nos meus pulmões que nem bem sararam e vão ter que enfrentar um frio de picolé.
Fiquei arrepiado de ouvir a notícia, mas como “cabrito bom não berra” não só mudei de canal como desliguei a TV e fui ao Shopping Barigui com minha mulher comprar acolchoados, botas, meias de lã, pulôver, luvas, japona e mais um aparelho de ar condicionado de trinta mil Btus ( frio e quente) para instalar na sala do meu apartamento.
E quando mal tínhamos chegado ao Shopping encontramos a Zenilda a vidente, sensitiva e doutora em Tarô:
- Por que tanta pressa, doutor? - falou a mulher.
- Olá, vamos fazer compras...
- Já sei: por causa do frio que está chegando?
- Você também ouviu na Globo?
- É, mas é papo furado.
- Você acha? Não vai fazer frio?
- Esqueceu que sou taróloga?
- Não...
- Pois afirmo que não vai esfriar coisa nenhuma: tudo sensacionalismo da Imprensa!
- Posso acreditar?
- Não gaste seu rico dinheirinho à toa; economize para ir à Anchorage usar sua camiseta da Hering.
- Obrigado. Então no final de semana iremos caminhar no Parque Barigui e eu estarei pensando em você.
- Aproveitem, desculpe-me, mas tenho que encontrar um amigo que está me esperando na praça da alimentação. Tchau.
- Tchau, vou seguir seu conselho! Não vá falhar!
A Zenilda pegou o corredor da esquerda e sumiu de vista. Eu peguei o da direita e fui com minha mulher no cinema.
Depois da sessão, quando voltávamos para casa de carro, surgiu uma dúvida e perguntei para minha garota:
- Será que a Zenilda tem razão? Não vai esfriar no final de semana?
- Não sei não; lembra que ela disse que o nosso netinho seria uma menina e nasceu um menino?
- Zeus! Nem me lembrei disso, ela é uma embusteira! Como pude esquecer? E agora?
- Amanhã voltaremos ao shopping para comprar os agasalhos...
- Sim é melhor previnir. Que mancada eu dei!
- Que nada, você foi maravilhoso, porque o filme foi excelente...
- E a Maju?
- O que tem a Maju?
- Será que ela merece credibilidade na previsão do frio?
- As vezes ela acerta, às vezes não; sabe como é ela trabalha na Globo!
Fiquei com uma pulga atrás da orelha: compro ou não compro os agasalhos? Se comprar e não fizer todo aquele frio anunciado, vou ficar aborrecido por ter “jogado” dinheiro fora; mas se não comprar por acreditar na Zenilda e fizer um grau negativo de temperatura, vou me sentir como se tivesse cortando lenha em Anchorage, estreando minha camiseta da Hering e o pior: com vontade de esganar uma certa vidente...
“Lembra do programa de rádio “Revista Matinal” do Artur de Souza pela B2? Tinha um japonês meteorologista que fornecia informações do tempo e quase sempre errava. A tecnologia era insipiente. Quando ele afirmava que iria chover ninguém saia de casa com guarda-chuva ou galocha; e vice-versa. Agora estou entre a Zenilda e a Maju.
Alguém pode me ajudar?”
Edson Vidal Pinto