O Outro Lado de Curitiba.
Como é gratificante viver em Curitiba, a cidade das mil estações do ano, com seus edifícios modernos, seus ônibus articulados, logradouros públicos que são cartões de visitas e com um povo de muitos sotaques. Longe do mar e das montanhas, com rios que teimam em não morrer.
A cidade ainda cultiva a melhor qualidade de vida criada pela prancheta mágica do genial Jaime Lerner. Quer queiram ou não ele continua sendo lembrado por todos àqueles que amam a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. É claro que nem tudo é perfeito; a cidade cresce da noite para dia, cada vez mais aumenta o número de veículos nas ruas e avenidas, a violência é uma constante e as periferias vivem à míngua em um mundo à parte.
As cidades no mundo inteiro por mais belas e hospitaleiras guardam segredos que a maioria de seus habitantes desconhece. Não importa o continente em que elas estejam localizadas, muito menos que sejam ricas ou não, os guetos e as periferias são apêndices tristes por mostrar outra realidade.
E nossa cidade não é exceção. E por que digo isso? Porque estou viajando por Curitiba enquanto releio o livro do urbenauta Eduardo Fenianos (“Volta por Curitiba em 90 Dias”, editora Univer Cidade) em sua viagem por nossa cidade para conhecer e percorrer rios, bairros e ruas como um viajante em busca de conhecimentos e aventuras.
E se percorrer com balsa longos trechos de nossos rios com a ajuda de bombeiros e guardas florestais não foi nada fácil, pelo mau cheiro da poluição gerada por esgotos dos moradores ribeirinhos, dos crimes ambientais das indústrias e da própria Sanepar que nas estações de tratamentos despejam dejetos nas suas águas, foi difícil também andar dentro das favelas. O lado bom delas é que ele encontrou muita gente boa, famílias inteiras vivendo em união e lutando pelo pão de cada dia. Gente humilde, trabalhadora e hospitaleira.
O lado negativo foi que só entra na favela quem obtiver prévia autorização do “prefeito” local, o chefe do crime e das drogas. Ele representa a lei na comunidade e não é confrontado por ninguém. Fenianos viu crianças, adolescentes e adultos no vício do crack e da maconha consumindo drogas andando pelas ruas e também dentro de casas. E o mesmo cenário teve igual constatação nas demais favelas que percorreu, descrevendo o lado obscuro de uma Curitiba que muitos ignoram ou acham que não existe. Mas é pura verdade, pois todas as cidades têm seus próprios lugares sombrios e perigosos.
É nesses bolsões localizados nos limites extremos, quase ignorados, que nasce a violência e dá asas à criminalidade; lugares em que as autoridades mais deveriam dar atenção para equilibrar as condições de vida de uma mesma sociedade. Sem combater no próprio ninho os marginais perigosos, implantar escolas, postos de saúde e instalar unidades policiais, dificilmente haverá solução.
O livro do Eduardo merece ser lido e difundido nas escolas para ensejar reflexão e despertar mais amor pela nossa cidade. E principalmente para dar puxão de orelhas nas autoridades para que realizem planejamentos de políticas públicas também para as periferias, a fim de banir os criminosos que reinam impunemente nas favelas, escudados na violência e no medo...
“As cidades têm corpo, alma de gentes, silhuetas e contornos físicos. Têm beleza e feiúra. Todas são iguais, sem exceção. Curitiba está dentro do padrão. As favelas orbitam mas fazem parte da urbe.
Integrar cada uma delas é tarefa hercúlea e indispensável para a segurança pública!”
Edson Vidal Pinto