O peso do elefante nas costas
Como é dia para descansar resolvi, depois de um longo e tenebroso inverso do verão curitibano, dar uma volta de carro ao redor do Parque Barigui. Estou precisando perder um pouco de peso e de barriga. E num determinado trecho deparei ao longe com um amigo que há muito tempo não via, estacionei o veículo, desci e fui ao seu encontro. O Antônio Carlos estava parado sob a sombra de uma árvore “urubeservando” àqueles mais afoitos que andavam e outros que corriam. E quando me viu deu um largo sorriso e estendeu a mão:
- Puxa, quanto tempo, hein?
- Muito tempo. - respondi e apertei sua mão. - Tudo bem? - perguntei.
- Sim, mas preocupado. Ouviu pelo noticiário que a Reforma da Previdência do funcionalismo público já foi sancionada pelo Dória, governador de São Paulo?
-Tomei conhecimento e logo o mesmo acontecerá aqui no Paraná...
- Pois é, por isto estou preocupado ...
- ?
- Veja você: os governantes alegam que se não houver a reforma da previdência não haverá em pouco tempo, dinheiro para pagar os funcionários e nem os funcionários inativos e pensionistas. E a intenção da reforma foi para estancar as benesses e equilibrar as fianças ...
- E não foi assim ? - perguntei.
- Em parte -, veja bem: está certo impor um limite de idade proporcional ao período de contribuição previdenciária, sem o qual o sistema quebraria. Só que a Reforma extrapolou os limites ao onerar o funcionalismo público.
- ?
- Explico: os salários estão congelados e a tal da reposição salarial anual é um engodo, pois de fato não repõem nenhum centavo além da inflação ocorrente no ano.
Logo, os salários a cada ano que passa estão sendo achatados.
- Seu raciocínio tem lógica, pois reposição ficta do
salário sabidamente é engolida pela inflação do próprio ano. Portanto ficou fácil governar sem aumentar os funcionários públicos.
- Exatamente..
- Aliás, nesse ponto, a classe do funcionalismo está sendo desvalorizada e desrespeitada, porque salários defasados só servem para desestimular as carreiras e arregimentar pessoas despreparadas.
- Daí a grita dos professores e dos militares ...
- E dos funcionários de um modo geral. - arrematei.
- Pois, é. Além do mais a Reforma da Previdência tem propiciado perda salarial considerável ...
- Está se referindo a contribuição mensal? - aduzi.
- Exatamente. Hoje, está sendo descontado onze por cento do salário para a previdência; e com a Reforma a previsão é de que a contribuição possa chegar a catorze por cento!
- Um exagero ...
- E um castigo para todos os funcionários: pois com os salários defasados ainda deverá suportar o “elefante do gigantismo do Estado, nas costas!”.
- Triste verdade. - assenti com a cabeça.
- E sem esquecer que até os aposentados, que contribuíram trinta e mais anos para poderem usufruir dos proventos de aposentadoria que fizeram jus , criminosamente também estão sendo descontados ...
- E de igual, as pensionistas!
- E o pior - concluiu o Antônio Carlos - Ninguém, nem um agente público da área de Recursos Humanos, nenhum mandatário e muito menos um único político tem levantado a voz para defender ou valorizar os funcionários públicos. Só os cargos comissionados detêm privilégios e benesses...
- É meu amigo a situação não está nada boa.
- E pelo andar da carruagem, parece que a Reforma da Previdência, embora necessária, só vai engordar o erário e vai se tornar um pesadelo para o bolso dos funcionários...
Depois de trocarmos outras palavras e falarmos de nossas famílias, prometemos sair às ruas no próximo dia quinze, pois também concordamos que corrupção, nunca mais!
Voltei para o meu carro, acionei o motor e continuei dando voltas ao redor do parque, pois não posso deixar meus exercícios físicos de lado...
“Sei que no domingo não é dia para escrever assuntos preocupantes do cotidiano.
Não queria, mas não pude deixar de colacionar o tema abordado, para reflexão.”
Edson Vidal Pinto
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