O Souvenir.
Tem pessoas que gostam e apreciam comprar pequenas peças de cerâmicas ou algum outro objeto que lembre o lugar pelo qual visitou, mimos que depois decoram a residência, servem de recordação e para mostrar à terceiros.
Eu mesmo por muitos anos e pela mesma razão nas viagens comprava casinhas de madeira em miniatura feitas artesanalmente, que servem tanto para saber a previsão do tempo como e até a temperatura ambiente, que minha mulher pendurou em uma das paredes do apartamento.
E foram tantas que um dia resolvemos colocar um quadro pintado a óleo no lugar em substituição àquele “condomínio”. Meu concunhado eng. Gilson Gomy de Ribeiro quando viaja para o exterior sempre trás como relembrança um relógio de parede ou um prato de porcelana com estampas do país visitado, algumas destas peças ele coloca no apartamento de Curitiba e outras servem para decorar a casa de praia.
Na verdade cada um com sua mania. Dito isto me lembrei de um episódio acontecido há muitos anos atrás, numa época de cachorro magro, quando o salário dos Juízes e Promotores dependiam do Governador do Estado e cujos valores eram transparentes e publicados em folha inteira no jornal “Gazeta do Povo” juntamente com o salário dos demais servidores públicos. Hoje os subsídios estão indexados também com os de deputado federal e senador, e só ocorre reposição ou aumento dependendo da decisão política do Presidente da República. O Conselho Nacional de Justiça conseguiu acabar com o chamado pacto federativo.
Mas esta é uma outra questão. Meu aborde será apenas o mimo do souvenir. O Paraná era governado pela figura ímpar e proba do ilustre jurista e advogado dr. Hosken de Novaes, radicado na cidade de Londrina, que dignificou o cargo que exerceu e nunca perdeu a sua fleuma de bom conversador, nem a sua simplicidade muito menos o seu tino de agudo administrador. Foi um tempo que os salários deixavam muito a desejar e tanto a Magistratura quanto o Ministério Públicos não atraiam para as suas carreiras os mais vocacionados, pela defasagem do salário e dificuldades para residir nas comarcas do interior. Era preciso melhorar o vencimento.
As diversas classes de funcionários procuravam através dos meios que dispunham chegar até o governador para pleitear o aumento de salário e no Ministério Público não era diferente. A Associação de classe convenceu o saudoso Procurador de Justiça dr. Eduardo Corrêa Braga, decano da Instituição e um lapeano de quatro costados que não tolerava muito lero lero, mas que era amigo pessoal do dr. Hosken por ter quando Promotor de Justiça atuado alguns anos na comarca de Londrina, a fim de que o mesmo capitaneasse um grupo de colegas em uma audiência com o governador.
Claro que a intenção era pleitear aumento de salário. O dr. Eduardo concordou e daí foi solicitada audiência com o Chefe do Executivo. No dia e hora marcado para o encontro uma pequena comitiva acompanhou o dr. Eduardo, e eu era um dos integrantes. Fomos recepcionados na ante-sala da governadoria onde tinha uma mesa própria para acomodar os visitantes; a audiência começou descontraída para os dois amigos que se confraternizaram e lembraram dos velhos tempos na cidade de Londrina, porém, não para os acompanhantes que estavam pisando miúdo num ambiente formal e solene do Palácio Iguaçú, ainda mais nas presenças daqueles dois homens que por suas biografias exalavam respeito.
No momento da reivindicação falou o Promotor de Justiça Ronaldo Botelho, colega que presidia a Associação Paranaense do Ministério Publico, que expôs os problemas econômicos da classe. O governador tentou relutar um pouco mas depois de muita conversa acabou concordando com o pleito. E daí ele mandou o garçom servir para os visitantes o tradicional cafezinho nas xícaras que tem impressa na parte de fora o brasão do Estado do Paraná.
Daí Mais um pouco de conversa, agora um pouco mais animada, quando um colega se sentindo mais a vontade falou ao governador:
- Dr. Hosken, que xícaras belíssimas essas com o símbolo do nosso estado …
Fez-se um silêncio sepulcral e ele concluiu:
- Será que o senhor não poderia me presentear meia dúzia delas como souvenir para eu servir cafezinho, quando forem visitas na minha casa ?
Antes do governador responder o dr. Eduardo acintosamente levantou da sua cadeira e disse ao seu velho amigo:
- Hosken : e pensar que vim aqui só pedir aumento de salário mas tive de ouvir um pedido absurdo feito por um colega! Peço desculpas.
O calejado advogado colocou o braço sobre o ombro do velho Procurador e o acompanhou até a porta do elevador do Palácio, despedindo-se dos presentes. De volta à sede da Procuradoria o inoportuno Promotor ouviu cobras e lagartos.
Com certeza ele ficou na vontade de ter um souvenir, arrolado como bem publico do estado…
“Por mais simples que a pessoa seja quando está em ambiente formal deve sempre vigiar as palavras. Bem publico é bem publico. Só o Luiz Ignácio não sabe distinguir a diferença do que tem, com aquilo que pertence ao Governo.”
Édson Vidal Pinto