O Transatlântico.
Sábado, 14 de janeiro.
A mente humana é uma caixa indecifrável. Ela nos transporta no tempo e no espaço sem a mínima necessidade do nosso corpo sair do lugar. Mal comparando é como um filme que assistimos na sala de cinema e parece que somos protagonistas do seu enredo, como personagens ou meros figurantes de cenas.
Nossa mente cria fagulhas de imaginação e nos transformam de simples mortais em destemidos heróis imaginários, somos atletas recordistas do primeiro time, montanhistas arrojados, ciclistas, golfistas e às vezes para dar um molho especial, o pior de todos e o menos prestigiado. Pois nem sempre somos nós que dirigimos o roteiro em que somos atores. Nossa imaginação é só nossa, mas dela não somos proprietários.
Por quê? Ora, porque nem sempre queremos "voar" como Peter Pan em busca da Terra do Nunca, não raras vezes a nossa imaginação nos transporta sem querer para a irrealidade e a fantasia. Ontem vivenciei um destes momentos. Nem bem estacionei o meu carro no ferryboat para fazer a travessia De Guaratuba para Caiobá, me senti no tombadilho de um enorme transatlântico!
Olhei para os lados e vi o frenesi de pessoas embarcando, os oficiais do navio orientando os passageiros mais afoitos que queriam se dirigir para seus camarotes, uma infinidade de malas atrapalhava o fluxo de pessoas, tudo estava limpo , as piscinas já estavam cheias. Olhei para o oceano e vi que a água estava límpida, nem uma onda, o dia estava próprio para navegar. Uma atendente do bar aproximou-se com uma bandeja e me ofereceu uma taça de champanhe. Sorvi aquele líquido num só gole.
Olhei para a embarcação e deparei que ela era nova, com doze andares, pintada totalmente de branco, com bandeira americana. De repente ouvi apitos roucos, o navio estava deixando o cais. Do Porto de Guaratuba presenciamos a banda de a cidade tocar a "canção da despedida", as pessoas que permaneceram no píer acenavam com lenços brancos e os foguetes estouravam no céu azul.
No imenso navio os passageiros que assistiam aquela cena, não paravam de chorar. Quem uma vez sequer tenha viajado de transatlântico na vida, sabe muito bem como é a tristeza da despedida! Foram tantas lágrimas que o mar começou a se agitar. Felizmente foi simples marola.
Em poucos segundos a gigantesca belonave zarpou com a fúria dos seus motores. Senti no meu rosto o espasmo do vento, a travessia entre os dois mundos estava começando! Fechei os olhos para guardar na retina alguns momentos de puro êxtase. E quando abri o navio estava atracando no terminal portuário de Caiobá! Putz, que viagem rápida!!
Entrei no meu automóvel e só então me dei conta que estava deixando para trás o fétido ferryboat. Acabou o meu sonho de verão ! Ainda bem que não gastei nenhum dólar e nem euro, porque minha imaginação é excelente agente de viagem e presta serviços gratuitamente. Este conto pode não ter valido a pena para ler, mas confesso que me diverti muito para escrevê-lo. Pois realizei mais uma das minhas viagens que só a imaginação sabe muito bem criar. É só experimentar!