Ódio no Coração.
Infelizmente gerações de brasileiros ainda não souberam o que é viver em um país próspero, seguro e bem governado. Claro que não vou às raízes do Brasil colônia ou império porque seria muito exagero sondar um passado tão mal contado, com episódios históricos envoltos em fatos e fantasias. Tem muita coisa encoberta nos textos da história que aprendemos na escola.
Minha afirmação está baseada nos governos da República, incluindo o período da ditadura Vargas até os nossos dias. Quer queiram ou não o período Militar foi uma exceção, pois não influiu na vida dos brasileiros ordeiros e cumpridores das leis.
Os governos republicanos foram todos péssimos, corruptos, irresponsáveis e inconsequentes. Não incluo o atual período de governabilidade porque ainda está engatinhando. Mas seguramente estamos vivendo uma quadra histórica de um país dividido entre “nós” e “eles”; “coxinhas” e “mortadelas”; “frouxos” e “resistentes”; “honestos” e “corruptos”; “cotistas” e “brancos”; “LGBs” e “anormais”; “telespectadores da Rede Globo de Televisão” e “patriotas”; e uma parafernália de tantos “prós” e tantos “contras” por motivos que às vezes não tem nenhuma razão de ser.
E criticar, ofender e duvidar da honestidade alheia está sendo o julgamento mais leviano e o prato pronto de qualquer conversa ou canal de informação. E os melhores exemplos estão dentre os jornalistas traídos pela ideologia ou pelo caráter distorcido de enxergar e interpretar os fatos.
Sou um Magistrado aposentado, trabalhei no ofício público dos catorze até os setenta anos idade, tenho uma biografia como poucos, meu patrimônio é moral, minha declaração de imposto de renda (quando na ativa) era encaminhado anualmente ao Conselho Nacional de Justiça para aferição de meus ganhos e não tenho vergonha e nem medo da verdade. Não sou exceção, sou parte da regra dentre os agentes do Ministério Público e da Magistratura.
E com pesar, em virtude da má fama que injustamente está sendo rotulado o Poder Judiciário pelas péssimas atitudes e ações de alguns ministros que integram os Tribunais Superiores, estou sendo levado de roldão nesses comentários e comparado como cúmplice de um balaio de gatos. Só porque eu sou desembargador aposentado. Não sou inscrito na OAB, não sou advogado, e quando me perguntam a minha profissão tenho que dizer que sou “Magistrado” ou “Desembargador aposentado”.
E tenho orgulho disso, pois são poucos os profissionais que chegam aonde cheguei. Exerci a judicatura com amor, independência, nos limites da lei e com respeito aos jurisdicionados. Não sou melhor do que ninguém e se cometi erros em meus julgamentos foram todos inconscientes; jamais errei por querer errar.
Dói-me, e de igual forma sei muito bem que dói também para meus colegas de Toga, as insinuações entre aspas quando o título desembargador é referido por aqueles que querem denegrir a Magistratura, diminuir a importância do trabalho do Juiz no contexto da sociedade e proceder à execração pública os profissionais que representam a Justiça no país. Entre nós, como carreira composta de seres humanos heterogêneos na maneira de ser, pensar e agir é claro que não pode ser constituída de vestais e nem de príncipes de contos de fadas.
O gênero humano é falível é imperfeito. Mas criticar os Magistrados por meia dúzia de gatos pingados, ordinários e parciais não parece inteligente, sóbrio e muito menos educativo.
Sei que é difícil dar nome aos bois mas é possível centralizar a crítica sem a necessidade generalizar e ofender àqueles que embora componham o mesmo gênero, são de espécies diferentes.
Não que a crítica desairosa feita genericamente aos “Desembargadores” possa induzir que eu tenha vestido a carapuça, nada disso; pois sei que o ódio no coração desses críticos está ligado ao anseio de que o atual Presidente da República traga novos tempos para o Brasil, sepultando o mal da corrupção e banindo todos aqueles (inclusive Juízes) que prejudicam a Nação.
Também concordo. Mas não custa nada separar o joio do trigo, porque Juízes e Desembargadores também têm família, amor próprio, e a Magistratura para zelar...
“Só porque sou Juiz ou Desembargador não quer dizer que eu seja desonesto, nababo, parcial ou pernicioso à sociedade que sirvo. Toda a crítica é válida, porém quando ela é genérica e o título de desembargador é grafado entre aspas, ela é debochada e perniciosa.
Salvo, quando ela não deixa dúvidas sobre quem ou qual Tribunal a crítica é dirigida. Pois dar nomes aos bois nem sempre é prudente”.
Edson Vidal Pinto