Onde os Amigos se Encontram.
Olhei no calendário que está em cima da escrivaninha do meu escritório e me dei conta de que este ano está passando rapidamente; pois estamos nas vésperas do segundo semestre.
Aliás a marcha do tempo tem sido tão dinâmica que num piscar de olhos nem parece que algumas décadas ficaram para trás. Lembro como se fosse hoje -1.975 - , quando o saudoso Procurador de Justiça Dr. Eduardo Corrêa Braga, decano do Ministério Publico, pediu que eu viesse de Faxinal onde eu era Promotor de Justiça para escolher dentre três Promotorias de comarcas que estavam vagas, aquela que eu gostaria de ser promovido: Ponta Grossa, Guarapuava e Umuarama.
Fui distinguido com tal consideração pelo reconhecimento de minha atuação profissional, após ter enfrentado episódios que culminaram em risco de minha própria vida. Tempos de conhecidos quadrilheiros que causavam medo na região central do Estado.
Eu encabeçava a lista tríplice de promoção por merecimento para a entrância intermediária, último degrau da carreira para chegar em Curitiba. Surpreendi todos quando optei pela comarca de Umuarama, cidade localizada a seiscentos quilômetros de distância da capital e que eu não conhecia.
Foi uma escolha no escuro. Na verdade eu e minha mulher queríamos consolidar nossa família e criar nossos dois filhos vivenciando a vida segura, simples e hospitaleira da cidade interiorana. E na viagem de Faxinal para Umuarama, depois de despachar a mudança por uma transportadora, levei minha mulher, filhos, empregada e cachorro num veículo Passat, Volkswagen, quando então encalhei o carro na entrada da cidade.
E nem estava chovendo, o sol estava a pino, foi num monte de areia acumulada sobre a pista asfáltica. A região noroeste por ser arenosa propiciava dita surpresa na rodovia para chatear os motoristas inexperientes. Foi preciso um trator para tirar o veículo do local. Este foi o cartão de visita de Umuarama.
A cidade que fora projetada artificialmente (como Maringá) era asfaltada, tinham círculos em forma de praça que “irradiavam” as ruas até chegar a outro círculo e assim por diante; tráfego era intenso, mas as rotatórias dispensavam os semáforos. Na época a cidade estava em efervescência e projetava um futuro promissor.
O único prédio era o Hotel do Dr. Nabor Moraes Neto, ilustre advogado local, que posteriormente foi Secretário de Estado do Trabalho de Haroldo Leon Peres, governador nomeado e posteriormente cassado por ato de improbidade. A Catedral da cidade e a Praça Santos Dumont eram os principais pontos de convergência dos habitantes.
A Avenida Paraná, com pistas próprias de idas e vindas, com canteiro central, cortava o centro da cidade e era a principal via; ao lado dela estava instalado o comércio e os principais supermercados: Musamar e Planalto. O melhor restaurante, de cardápio internacional, era o famoso “Chapelão”.
O fórum era improvisado: as duas Varas Cíveis estavam instaladas em uma antiga pensão de construção de madeira, acanhado e sem nenhum conforto. Distante deste estava as duas Varas Criminais e a Vara de Familia e Menores Infratores que funcionavam no piso superior de um prédio de material, cuja área térrea abrigava uma oficina mecânica. E ninguém reclamava. Eram Juízes: Joel Pugsley, Antônio Antunes, Leonardo Pacheco Lustosa, Ayrton José Saldanha e Aroldo Glomb. E Promotores de Justiça: Benito Italo Pierri, Francisco Borba Fortes de Sá, Gabriel Lustoza Nogueira, Joubert Gonçalves Vieira e eu.
À distância com a capital tornava o relacionamento entre Juízes e Promotores como se fôssemos uma só família, cada um atendia e acudia o outro em todos os momentos.
Dá saudades de pensar no ambiente forense, no trabalho intenso da Comarca onde mais de setenta advogados militavam com garra e denodo. Eu e minha mulher sempre pensamos nos verdes anos de nossa juventude, com nossos dois filhos pequenos, na nossa casa de madeira e na piscina que construí e que aproveitamos até sair minha promoção para Curitiba (abril/1.980).
Fui feliz em escolher Umuarama para trabalhar e viver por alguns bons anos de nossas vidas, com amigos inesquecíveis; pudera, pois na língua Tupi-Guarani “Umuarama” quer dizer: “onde os amigos se encontram” ...
“A cidade de Umuarama, no noroeste do Estado, atualmente é um polo regional próspero e considerada comunidade universitária. Seus edifícios, praças e bairros representam a pujança econômica do Paraná. A sua gente é hospitaleira e tem sempre as mãos estendidas para receber seus visitantes”.
Edson Vidal Pinto