Os Cães e os Gatos de Hoje
Claro que os tempos são outros, ninguém pensa ao contrário, pois o que passou, bem ou mal, ficou para trás. Mas para aqueles que têm o privilégio de viver por mais tempo, com certeza não deixam de reparar e nem comentar, as diferenças gritantes entre o ontem e o hoje. E apenas para citar um exemplo vale cotejar o modo de vida de dois dos principais animais domésticos: os cães e os gatos.
Ontem, os cachorros se prestavam como guardas das propriedades, não importando se eram ou não ferozes, pois os latidos já serviam de alerta para o dono da casa saber que alguém estava chegando. Os mais comuns eram os vira-latas, uma espécie de guapeca fiel e obediente, porém atrevido com estranhos. Dormiam sobre pano velho, dentro de suas “casinhas”, tendo ao lado um prato esmaltado para comida e um recipiente com água potável. Eles residiam no quintal ou na área coberta da porta de entrada da casa. Comiam de tudo: restos de comida, suculentos ossos de churrasco, linguiça, bolo e bolachas. Nunca entravam em casa, quando muito sentavam no assoalho da cozinha. Viviam anos a fio e nunca foram a nenhum veterinário. Morriam como qualquer outro animal.
Os gatos, mais tinhosos tinham o privilégio de habitar dentro das casas a fim de caçar os ratos. Bem mais higiênicos, porém geniosos, eram paparicados e também comiam de tudo. O cachorro e o gato eram inimigos mortais. E hoje?
Primeiro, abro um parênteses para esclarecer que ouvi na Rádio Bandnews, no horário das doze horas, a notícia de que o Brasil está em terceiro lugar no gasto mundial de alimentos para cães e gatos, incluindo banho e tosa, só perdendo para os Estados Unidos e o Reino Unido. O custo total chega a dois bilhões por ano. Pasmem! Fecho parênteses.
Pois bem, os cães são tratados como filhos ou netos, ocupam os melhores lugares da casa, dormem na cama ou no quarto de alguém, frequentam regularmente o veterinário, o salão de beleza e saem com seus donos para acompanhá-los nos passeios diários, onde aproveitam para fazer suas necessidades fisiológicas.
Na maioria das vezes moram em apartamentos, quase não latem, vivem muito bem com outros de sua espécie e adoram os gatos. Dormem mais do que ficam acordados. Comem rações equilibradas e água mineral. Não sabem mais comer osso e quando tentam se engasgam. Passeiam de carro e vivem como paxás.
Os gatos de hoje amam os cachorros, os ratos, os peixes e os passarinhos, vivem dentro de casa e passam a maior parte do tempo dormindo no sofá da sala. Quase sempre são de raça esnobe, moram em ótimos apartamentos e finas residências. Também frequentam regularmente o veterinário e só comem ração e bebem água sem cloro. É o príncipe consorte da casa e territorialmente age como se fosse o dono dela.
Só cachorros e gatos de pobres, bem pobrezinhos é que são iguais aos animais de ontem, comem quando tem comida, caçam ratos para comer melhor, brigam e atacam os indesejáveis. Agora, falando sério, tem alguns gatos que são do balacobaco, pois concorrem eleições e quando se elegem dão o que falar. Só os cachorros não tem essa oportunidade, por isso, latem quando tem fome, latem quando vê alguém roubando, mas não podem fazer nada, porque estão presos pela coleira. Igualzinho a certos eleitores, que votam sempre nos mesmos gatos e depois ficam latindo desesperados...
“Na próxima encarnação não seria má ideia retornar como cão ou gato de madame. Iguais aos animais de pura raça, treinados na Suíça, invejados pelo porte físico e soberbos. Como gato poder um dia chegar a Presidência da República; como cachorro viver na sombra do poder e rir da desgraça alheia. Afinal são animais e não gentes!”
Edson Vidal Pinto