Pandemônio!
São tantas as preocupações do vírus que está no ar que estou com medo de respirar; precavido achei que comprar máscaras na farmácia era muito pouco, resolvi então adquirir em uma loja que vende prancha e artigos de esportes aquáticos: um escafandro!
Para proteção total e absoluta foi o traje mais adequado que encontrei para comparecer sem receio em uma festa no Country Clube. E não é exagero não, pois estou dentre aqueles idosos, que orbitam a chamada zona de risco. Com o traje que comprei, minha mulher se recusou em me acompanhar. Acho que ela pensou que eu estava estupidamente bem vestido, para uma reunião social. Não dei ouvidos e fui à festa.
O segundo problema que surgiu foi quando tentei entrar no meu carro; o escafandro e eu disputamos juntos todos os espaços disponíveis do banco do motorista para nos
acomodarmos. Enfim depois de uma meia hora finalmente eu estava sentado dentro do meu Fiat 147, mas não conseguia achar a direção, o câmbio manual e nem o pedal do freio. Por quê? Ora, as luvas grossas e enormes do meu traje não conseguiam tatear nem o cambio e muito menos a direção, até porque eu não conseguia enxergar nada, pois a janelinha de vidro do meu capacete de latão estava embaçado internamente pelo bafo de minha boca e suor do meu rosto. E nos pés o peso das minhas botas não me permitia controlar a fragilidade dos pedais.
Depois de muito custo consegui com que o Fiat saísse do lugar, deixando para trás um rastro malcheiroso de óleo rançoso. E por onde eu passava despertava a atenção: um menininho que brincava com uma bicicletinha na calçada quando me viu gritou para a mãe que estava ao seu lado:
“-Olhe, manhê, é o Maria Louca dentro do Batmóvel!”.
Juro que não entendi a insinuação feita pelo infante, mas de soslaio vi pelo espelho retrovisor que a mulher puxou o filho pelos braços e entrou correndo para dentro de casa. Mas a passagem mais hilariante do trajeto foi quando deparei com uma blitz do DETRAN, para exame do bafômetro.
E para o meu azar à portinhola da janelinha de vidro do meu capacete de latão, emperrou. Não abria por nada. O policial falava e eu não ouvia nada; mostrava o bafômetro, mas eu não tinha como soprar. Eu gritava e o policial não ouvia, pensei que seria preso. Foi quando se aproximou um tenente que estava no comando e então ouvi muito baixinho quando ele falou para o soldado:
“- Acho melhor liberarmos o Oil Man, pois ele deve estar em alguma missão secreta!”
Pô, só assim pude prosseguir viagem. Só não gostei por ter o Oficial me confundido com o Oil Man, pois bem poderia dizer que eu era o Aquaman, que estaria mais bem ajustado pela roupa que eu estava usando. E para entrar no Clube? Apesar de o meu carro ser o mais estiloso o funcionário da portaria não me reconheceu pela portinhola abafada. Mostrei minha carteirinha, mas como ele não podia conferir a minha foto chamou o diretor social. Que também não podia me identificar, logo, desisti da festa. Dei meia volta no carro e retornei para casa.
No portão automático do edifício o empregado da portaria me barrou na entrada:
- Escuta aqui moço, o que você está fazendo dentro do carro do doutor?
Tentei explicar que era eu, porém o capacete embaçado não permitia que ele me identificasse e nem me ouvisse. Nesse exato momento estou no pátio do 10º Distrito Policial e os bombeiros foram chamados pelo delegado para tentarem me tirar do interior carro.
Fiquei entalado como sardinha em lata. Só sei que retiraram com maçarico a porta do lado do motorista, só espero que não façam o mesmo para abrir a portinhola do meu capacete de latão. E pensar que foi tudo por culpa do vírus chinês que esta chegando de mansinho. Só sei de uma coisa é por isto deixo meu conselho: para escapar do vírus é melhor tapar a boca com uma simples máscara, porque usar escafandro resolve, mas dá muita dor de cabeça...
“O mundo está de cabeça para baixo e os terráqueos assustados. Todos os vírus estão soltos no ar -, vale quase tudo para se proteger. Menos duas coisas: deixar de respirar; e usar escafandro!”
Edson Vidal Pinto
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