Pânico!
Sábado, 03 de junho de 2017.
Tem dia que nem sábado consegue salvar! Basta sair da cama com pressentimento que nada vai dar certo, não sei se é por causa do frio, da ausência do sol, ou porque a preguiça força e se esforça para que o corpo fique na horizontal.
Mas uma atração estranha me puxou para fora de casa como imã que atrai o metal e sem querer o meu corpo tomou a direção da rua. Mas o que fazer as 07h00min horas da manhã de sábado, no frio intenso do Parque Barigui? Fiquei pensando que eu estava ficando fora da "casinha", porque não tinha o mínimo sentido para um homem como eu que gosta de muita sombra e água fresca.
O que será que vai acontecer? Olhei um pouco para os lados e vi algumas pessoas correndo pela pista, outras andando, algumas se exercitando nas barras de ginástica e eu sozinho, tilintando de frio, sem saber que rumo tomar. Não tinha a mínima vontade de andar com o vento matinal batendo no meu rosto e gelando minha calvície.
Estava a ponto de gritar quando vi se aproximar um sujeito, baixinho, vestindo capa e usando chapéu preto, com um cachecol da mesma cor cobrindo grande parte do seu rosto. Só dava para ver os olhos e nada mais. Era um assaltante! Tive vontade de correr, mas as minhas pernas não obedeciam, acho que a coragem tinha ficado para trás, na minha cama.
- Bom dia companheiro!
- Bo... bo... Bom dia. (Respondi balbuciando).
- Preciso de uma informação...
-? (estranhei a conversa).
- Não sou daqui, companheiro, sou do ABC paulista, você sabe onde mora a Gleisi?
- Que Gleisi? (Arrisquei)
- Minha musa, pô!
- Não, não conheço...
- Como não conhece? Ela é senadora e tudo mais...
- Ah! A senadora? Sei quem é, mas não tenho a mínima ideia onde ela mora!
- E o Rosinha?
- Também não sei.
- O Vanhoni?
- Idem...
- Samek?
- Na fazenda dele em Foz...
- pô, companheiro, você está me irritando! Você é curitibano?
- Com muita honra, sou da República de Curitiba!
(O baixinho estourou!).
- $&?;/$7?:?!@983 você está me gozando? Sabe com quem está falando?
- Com o Brahma!
- Onde? Onde? Tem um bar aberto há esta hora? Vamos tomar umas e outras?
- você não é O Brahma?
- cala a boca, companheiro! Estou disfarçado! Não posso dizer nem sim e nem não!!
- Por que?
- Se o Moro souber que estou aqui eu estou ferrado!
(Daí fui eu que não aguentei e comecei a gritar para que o pessoal do parque ouvisse:)
- Gente! Esse cara é o Brahma! É o famigerado e arruaceiro o Brahma!
Em segundos apareceu uma multidão ao nosso redor. Era tanta gente armada de pau, vassoura, cacetete, soco inglês, bombinha de São João, pedra, agulha de crochê e lança chamas que nem deu para ver como o barbudinho conseguiu evaporar do local.
Ele sumiu como o Diabo foge da cruz! A frustração foi geral e o pior é que toda aquela turma olhava diretamente para os meus olhos. Passei a ser o responsável por toda aquela situação. Foram minutos intermináveis e de puro desespero!
Mas ainda bem que tudo passou, neste exato momento estou escrevendo da minha cama, bem quentinha, do quarto que ocupo aqui no Spa da Lapinha, onde estou passando uma temporada para me recuperar do linchamento que sofri! Logo eu, um homem pacato e sedentário, que não gosta nem de olhar o Parque Barigui da varanda do meu apartamento. Mas prometi para mim mesmo que o dia em que esse cara for preso em Piraquara, eu vou me oferecer para ser o guarda do presídio!
Ah! Vai-se! Nem a tchurma dos direitos humanos vai ter o que reclamar... Pois vou tortura-lo dia e noite lendo Os Lusíadas, de Camões! Comigo é assim: sigo a Lei de Talião "Olho por olho, dente por dente"! Só espero que não demore muito.
"Dizem que se o Brahma for preso haverá revolta dos bebuns e congêneres. Pago para ver! Pois minha vingança será "maligna".
Edson Vidal Pinto