Panqueca Com Amor
Só porque hoje eu e minha mulher comemoramos 53 anos e 10 meses de casados, sentar na minha poltrona preferida, no escritório de meu apartamento, e logo lembrei de um episódio até certo ponto jocoso que pode servir de tema para esta crônica. Sempre garimpo no cotidiano e nas minhas lembranças assuntos que eu possa descrever, procurando variar os assuntos, para poder merecer a atenção dos leitores. Bem diferente dos nascidos neste século, com algumas exceções, quero dizer que sou do tempo que a mulher era conquistada pela convivência do namoro, depois o noivado, até chegar a data mais significativa por ser para toda a vida, que é o casamento. É claro que nem sempre o casamento dá certo porque o casal só revela aquilo que verdadeiramente é, quando juntam seus trapinhos e vão morar sob um mesmo teto. E quando não dá certo, tudo bem, a vida continua e cada pessoa tem direito de buscar a sua felicidade. Como aprendemos no Curso de Direito o casamento é um contrato e como tal ele vigora enquanto existir a “afeição entre os sócios”; tal qual o contrato social de uma sociedade comercial, esta via de regra termina quando começa existir desconfiança de um sócio para com o outro, brigas, quebra de fidelidade e desrespeito. Daí, então, o rompimento do vínculo associativo. Igual o casamento, não? E namorar é um ciclo que não tem prazo para terminar, pois quem ama namora sempre, cuida, protege e ampara, querendo sempre ver a felicidade da outra metade da maçã. Minha namorada quando começamos a namorar tinha catorze anos de idade, nada demais para a época, muitos casais de hoje se conheceram e casaram com moças que eram levadas ao Altar no mesmo ano que concluíam o Curso de Magistério.Tempos em que não era comum para nenhuma delas frequentar uma faculdade. A grande maioria foi esposa, mãe e mulher que ajudou o marido a vencer profissionalmente. A minha quando deixou a casa paterna em Curitiba foi morar em Jaguapitã, cidade do Norte do Paraná, em uma casa pequena com pouco conforto, ruas sem asfalto, não tinha televisão, e com ruas empoeiradas ou lamacentas. E nunca ouvi um lamento, reclamação e nem vi tristeza em seus olhos. Vencemos juntos todas as dificuldades que surgiram em nosso caminho. E as panquecas? Ah, estava quase esquecendo das ditas cujas. E tudo começou na fase do namoro. Quando consegui namorar dentro de casa, e depois pude fazer a primeira refeição, contei para minha namorada que o meu prato predileto era panqueca com carne moída, molho e queijo ralado encima. Foi um lapso que cometi. Ela para me agradar aprendeu a fazer panqueca e daí, todas vezes que eu era convidado para almoçar ou jantar era servido o tal prato. E eu comecei a não apreciar mais a panqueca, mas para não desagradar, não confessei que estava “cheio” das panquecas. É claro que estou exagerando, nem sempre nas refeições era servida a panqueca, mas, elas não eram esquecidas por longo tempo. Me fartei de comer tal quitute. Depois de casados, nos primeiros dias em Jaguapitã, certo dia quando eu voltei do fórum para almoçar, vi as panquecas na mesa preparadas com tudo o esmero. Daí não perdi a chance, depois do almoço, com muito jeito confessei:
-Meu bem, você não vai se ofender se eu pedir que não faça mais panquecas até o dia em que sair minha promoção para Curitiba?
Putz, é pensar que eu estava engatinhando na minha carreira do MP e com certeza, na melhor das hipóteses, só voltaria à Capital depois de treze ou mais anos! Ela me olhou espantada, e eu arrematei:
-Não é por nada não, mas a massa da panqueca está me fazendo mal …
-?
-Comi demais nestes últimos quatro anos!!!
Claro que ela, muito inteligente, entendeu e deu um sorriso de alívio, acho que nem ela estava gostando de fazer tantas panquecas…
“Cada casal com seus momentos tristes e hilários, com mil histórias no Livro da Vida. A família é um clã que enfeixa personagens frutos do amor. E como é bom a reunião entre todos com alegria, harmonia e saúde.
O melhor presente de Deus é a unidade familiar.”