Passeio Noturno em Guaratuba.
Não importa se você tenha casa na cidade, nem que seja veranista, turista ou caiçara. Enfim, esteja onde você estiver tem um ou outro dia que você se programa com a família para desfrutar de uma boa noite de diversão.
Em Nova York você escolhe uma boa peça de teatro; em Paris um café requintado ao lado da Torre Eiffel, em Roma uma aconchegante pizzaria nas cercanias do Coliseu e em Lisboa você vai jantar numa tradicional Casa de Fados.
No Rio de Janeiro você sobe o Morro do Macaco para ouvir o som frenético dos tiros de armas de fogo. E assim por diante, até você chegar a Guaratuba. Ontem à noite resolvi acompanhar minha mulher em uma dessas charmosas noitadas, só que por aqui existem duas únicas opções: o “Café Curaçau” onde os cantores gritam e as bandas entoam sons do Apocalipse, com sessões (felizmente) nos finais de semana; ou na fabulosa loja de departamentos denominada “Feira de Verão” (antigo “Mercadão das Malhas”). Gente quem nunca foi não sabe o que está perdendo. Faz inveja para os veranistas das periferias.
É sensacional! Você entra em um corredor estreito com dezenas de pequenos quiosques de ambos os lados, vendendo os mais diversos produtos de “malha”. Sabe, aquele tecido nobre fabricado no fundo dos quintais, que você veste no máximo três vezes e ele se transforma numa massa disforme e com durabilidade infinita.
Custa barato: três blusas femininas por vinte reais. Economia certa. E tem tecidos de todos os padrões, tipos e gostos. Para os homens de fino gosto tem bermudas, desfiadas e rasgadas super modernas por doze reais cada uma. Imperdível. Sem falar nas camisetas masculinas que depois de lavada uma vez serve de saída de praia para a esposa, noiva ou namorada.
É um produto de multiuso. O auge da alegria é você se dar conta que no diminuto corredor de quase um quilômetro de extensão, outras pessoas (centenas delas) também se espremem na luta frenética de poder comprar e ser atendida.
E o ar cada vez mais quente toma todo o espaço vazio; difícil de respirar, o suor corre por todos os lados, as cotoveladas acontecem em cada “virada” do corpo e a saída fica cada vez mais distante. Você entra e não consegue sair e mesmo assim uma população inteira do lado de fora quer entrar.
Por instantes perdi o equilíbrio e me segurei num par de botas de borracha que estava pendurada para venda; felizmente não cai e fiquei com o par de botas na minha mão:
- O freguês escolheu bem! - disse o dono do quiosque. - Borracha chinesa legítima! Trinta e cinco reais o par.
Sem graça, tentei calçar uma das botas para despistar e felizmente a mesma não serviu no meu pé.
- Freguês, só tem esse par. Se o freguês vier amanhã à noite eu providencio outra do seu número.
- Obrigado, mas viajo amanhã cedo para Curitiba.
E me afastei trombando com outras pessoas pelo corredor infindável. Só que no meio da multidão me perdi da minha mulher. Olhei em todas as direções e nada. Senti-me uma andorinha no polo sul. De repente com olhos de lince vi minha mulher comprando cuia para chimarrão.
Estranhei porque esse é um hábito que não cultivamos em nossa casa.
- Meu bem, o que você vai fazer com essa “coisa”?
Quando a mulher se virou eu vi que tinha me equivocado de mulher, minha mulher era outra e dei Graças a Deus por isso. Só faltava levar para casa cuia de chimarrão. Acho que seria para pendurar na parede da lavanderia, bem nos fundos da casa.
Continuei olhando e sem nenhum erro vi minha esposa parada no final do “corredor polonês”.
- Para que você queria comprar aquela bota?
Não respondi por que estava ficando sem ar e quando atravessei a porta de saída agradeci a Deus por estar vivo. Eu estava suando por todos os poros, sujo e exausto. Parecia que eu tinha corrido a Maratona vestido com escafandro, com pernas de pau e pulôver de lã sobre a pele.
E fora do “Mercadão” chovia a cântaros. Que aventura, pensei com meus botões; que programão para uma noite de verão na praia mais bela do Paraná. Logo me veio na lembrança que meu filho mais velho, nora e netas estão no Balneário Camboriú e sem titubear passei a mão no meu celular para contar a eles a “noitada” maravilhosa que tivemos em Guaratuba. Com certeza eles vão morrer de inveja...
“Onde ir à noite? Eis a questão. Nas praias do Paraná são tantas as opções que é difícil escolher. Investimentos para atrair turistas é que não falta. Tem de tudo é só escolher. Basta usar a criatividade e abraçar as atrações que estão ao seu dispor. É só saber sonhar!”
Edson Vidal Pinto