Pela Longa Estrada da Vida
Com o tempo brumoso e sem sol amanheci nostálgico por lembrar cenas do passado, tempos que vivem apenas na memória. O título da crônica é uma homenagem que presto ao meu inesquecível amigo dr. Antero da Silveira, Procurador de Justiça, homem probo mas de temperamento forte que era amigo dos amigos e um athleticano de corpo e alma. Ele foi Corregedor-geral do MP e eu tive a honra de ser o seu Promotor-Adjunto, quando então percorremos as comarcas do Paraná realizando correições nas Promotorias de Justiça.
E todas as vezes que a camioneta oficial entrava na rodovia ele colocava uma fita cassete para ouvir a música sertaneja “Estrada da Vida” -, que era o “hino” da Corregedoria. Dele tenho saudades e de sua esposa d. Juanita, por terem sido ambos faróis que iluminaram meus caminhos. Ah, os caminhos que percorri !No início de minha carreira profissional pelo interior do estado, pulando de comarca em comarca, até voltar para a capital. E quando olho minha mulher me dou conta que estamos casados há quase cinquenta e dois anos e parece que foi ontem que nos conhecemos, porque o tempo está passando rápido demais. Quando noivamos ela morava em Curitiba e eu em Carlópolis uma pequena cidade do norte velho, quase divisa com o estado de São Paulo.
A estrada entre Curitiba e Ponta Grossa era asfaltada e dali até Joaquim Távora, lugar em que eu descia do ônibus para pegar outro que me levava à Carlópolis, era de macadame e muito barro quando chovia. É claro que no final de semana eu queria estar com minha noiva e por isto eu viajava na sexta-feira a noite para amanhecer em Curitiba e retornava à comarca no domingo à noite para chegar em casa por volta das nove horas da manhã. A estrada era estreita e muito movimentada, com uma espécie de capim-limão que crescia em toda a margem da rodovia, com o ônibus parando em muitas cidades no trajeto impedindo que os passageiros pudessem dormir.
E quando chovia o ônibus encalhava e o motorista pedia para os homens descerem para a empurrar o pesado veículo. Empurrei muitos deles, encharquei meus pés na lama vermelha e sujei muito minha roupa. E a Empresa Princesa do Norte, concessionária do serviço, nunca me agradeceu pelo esforço que despendi para desatolar seus ônibus. Ingratidão empresarial. E quando não chovia os veículos que transitavam pela rodovia levantavam nuvens de pó que entravam pelo nariz e ficavam impregnados na roupa. Mas apesar das dificuldades enfrentadas valia a pena cada quilômetro percorrido para encontrar a pessoa amada. Com certeza lembrando destas passagens os colegas mais novos não acreditam porque hoje hoje tudo é diferente, as estradas asfaltadas, as cidades com telefone, internet, televisão e por menor que sejam todas elas proporcionando melhor qualidade de vida.
No interior tem até universidades e algumas são polos de educação superior. O Paraná teve um desenvolvimento há olhos vistos -, é um estado moderno, economicamente bem estruturado e o acesso à capital é feito em menor espaço de tempo. Quem viveu ontem pelo Interior do estado com certeza tem mil lembranças e histórias para contar, porque foram épocas difíceis porém havia muita solidariedade humana, o povo era acolhedor e respeitoso com as autoridades que chegavam, e quem soube retribuir com certeza deixou amizades imorredouras e viveu momentos inesquecíveis. E aqueles que agiram com soberba devem estar arrependidos, porque não têm nada para contar e quase nada para lembrar …
“Claro que ninguém vive do passado; mas lembrar os momentos que passou é muito bom. É uma maneira carinhosa de recordar pessoas que habitam nossos corações; dos episódios que foram só nossos; e , também, das longas estradas da vida.”
Édson Vidal Pinto