Peladas dos sábados
É claro que bateu a saudades quando lembrei do “CPLA” um grupo de amigos que nos sábados à tarde corriam atrás da bola de futebol, brigavam, diziam palavrões uns para os outros, caneladas para todos os lados, para no final se reunirem como velhos e bons amigos ao redor da mesa de um bar. O campo de areia estava localizado na Cia. de Guarda da Polícia Militar, nos fundos do Palácio Iguaçú, com chuva, sol escaldante, geada e garoa com os “atletas” sempre prontos a cumprir às ordens do “chefe” Antero da Silveira, uma espécie rara de ditador, déspota e ao mesmo tempo o anjo de todos nós. Ele escalava o time, era jogador, as vezes o árbitro das partidas, dono da bola e das camisas, era o único que mandava e ninguém se atrevia enfrentá-lo sob o risco de ser expulso do local. Na verdade ele era um “amigão” e o líder que unia todo o grupo. A sigla “CPLA” queria fizer “Clube dos Profissionais Liberais do Antero” -, estampada no boné que todos nós usávamos com orgulho. E quem eram os profissionais liberais do time ? Citarei alguns: desembargadores Plinio Caxuba, Jorge Andriguetto, Adolpho (Afinho) Kruger Pereira; Procuradores de Justiça Antero, Ronaldo Botelho, Dirceu Cordeiro, Joel Carneiro, Lourival Leite Bastos, Renê Kravetz, João Carlos Madureira; Juízes Edgar Winther, Teodoro Cruz Neto, Ivo Valente Fortes, Eduardo Fagundes, Michel Farah, Joatan Carvalho; médicos Israil Kat, José Faria Ratton, Afonso Antoniuk, Guilberto Mingheti, Rubens de Conti, Gerson Gebert, Luiz Ernani Madalosso, Octávio Augusto da Silveira , Sérgio Antoniuk, Arthur Kumer Jr., Gabriel Piá de Andrade, Cleverson agracia; engenheiros Jurimar Cavicchiollo, Mauro Lacerda Santos, Sérgio Cat, Sérgio Motter; advogados Eduardo Rocha Virmond, Josino Sabóia Neto, Celso Albuquerque, Benedito Moreira, Josafá Lemes, Marival Carvalhal Santos, Osmar Dargel Pereira, Ricardo Bueno, Romário Teramoto, Ruimi Prigol, Manoel José Carneiro e outros nomes que sou obrigado a omitir em razão do pouco espaço para concluir esta crônica. Pois,bem. Numa certa tarde de de um sábado com o sol a pino, calor sufocante, o saudoso governador Jaime Canet Júnior, homem afável porém de poucas palavras, resolveu despachar alguns expedientes em sua sala de trabalho no Palácio do Governo e para isto convocou alguns Secretários de Estado e o Chefe da Casa Militar, um Coronel da Policia Militar, para se fazerem presentes. Quando chegou no gabinete pediu para abrir os janelões para entrar o ar, pois não gostava de ar condicionado. Cumprida as suas ordens o governador começou a despachar, no exato momento em que lá fora, nos fundos do Palácio começou o primeiro jogo da tarde do “CPLA”. E não levou nem cinco minutos para eclodir uma gritaria vindo da partida de futebol com muitos impropérios e “cositas más”. Óbvio que o alarido começou a incomodar e irritar o Canet, que de pronto deu ordens ao Coronel para descer e acabar com aquela algazarra. O cioso Militar chamou o ordenança e ambos se dirigiram até o campo de pelada, porém, quando chegaram viram pessoas que conheciam muito bem. Chegou como não querendo nada, cumprimentou uns e outros, assistiu um pouco o “racha”e voltou para a sala do governador. No retorno o Jaime Canet lhe perguntou:
-Então Coronel, continuo ouvindo a gritaria daqueles desocupados. Você não mandou que parassem de jogar?
-Sabe que não, governador! - respondeu meio sem graça o militar.
-E por quê não?!
-É que os jogadores são o fulano, beltrano, ciclano…
-Mesmo? Tem certeza?!
-Absoluta…
-Então feche as janelas, ligue o ar condicionado e vamos continuar trabalhando!
E assim foi feito. A história é verdadeira e mostra toda a grandeza de um homem publico que sem dúvida foi um dos melhores governadores que o Paraná teve. E também, que a nossa “pelada” era uma verdadeira festa de arromba…
“Quantos nomes importantes eu citei nesta crônica, todos com papéis de destaque na vida pública e cultural do Paraná. Muitos vivem na saudades, outros, como eu, cultivam as lembranças de uma Curitiba ainda provinciana, onde as “peladas” uniam amigos para toda vida.”