Perdido no Paraíso.
Tem dia que paramos um pouco para pensar sobre aquilo que sempre quisermos fazer, mas nunca colocamos em prática e nem elegemos como prioridade. É verdade: pois todos nós alimentamos sonhos e desejos que deixamos esquecidos no nosso subconsciente. Só quando o tempo se esvai rapidamente é que nos damos conta destas frustrações, daí parece tarde demais.
Exemplo? Quando eu era criança minha vontade quando fosse adulto era ser maquinista da estrada de ferro, para dirigir uma poderosa máquina a diesel pelas linhas férreas da Serra do Mar com destino à cidade Antonina. Eu me via um verdadeiro maquinista, sentado no banco de comando, inclusive com o cotovelo do meu braço esquerdo apoiado no braço da janela da cabine recebendo o calor matinal dos raios amarelados do sol, enquanto que com a outra mão eu segurava o manche que controlava a maravilhosa máquina férrea.
E algum tempo depois, quando brincava de mocinho e bandido com meu saudoso amigo Luiz Antônio Vieira e uma turma de amigos, atrás do prédio onde meus pais moravam na Av. Iguaçu (ao lado do Hospital Maternidade Victor do Amaral), em uma área desabitada e que repleta de árvores de mamona, eu queria mesmo era ter sido índio americano da tribo Comanche, Apache ou Chayenne só para usar as roupas que eles vestiam nos filmes de Hollywood e poder cavalgar pelas pradarias em busca de aventuras.
Depois que conclui o curso superior e passei no concurso público da carreira de Promotor de Justiça, fui morar com a família que constituí no interior do estado, quando então secretamente alimentei o desejo de escalar o Everest. Não é brincadeira não e nem mentira, pois quando assistia filmes de montanhas e escaladas parecia que eu estava sofrendo, ofegante, com uma mochila pesada nas costas, mas com vontade intrépida de alcançar tão acalentado objetivo.
Acho que era apenas devaneio, pois eu nunca me atreveria em ser um alpinista e muito menos visitar o Nepal. Escalar o Pico do Marumbi foi o ápice de minha carreira como escoteiro quando fiquei distante do perigo do ar rarefeito, apesar de ter sido torturado por centenas de borrachudos que me fizeram desistir de qualquer outra tentativa.
Escalar o Everest só mesmo com segurança, sentado em minha poltrona preferida e na frente da TV. E como a marcha do tempo é inexorável e a idade vai avançando, hoje aposentado, alimento a esperança de morar em Anchorage, no Alaska. Por quê? Não sei dizer bem ao certo, talvez pelas paisagens ou pela neve sem fim. Mas não vou conseguir realizar nem este desejo tão secreto, por circunstâncias alheias à minha vontade.
O ar gelado não faz bem para os meus pulmões, é fato inconteste, segundo balizada recomendação médica. E eu vou obedecer esta ordem ao pé da letra. Não por ser minha salvação, mas no fundo no fundo porque não sei dirigir trenó e muito menos meu carro no meio de tanta neve...
“Todos os seres humanos alimentam sonhos e objetivos na vida. Nada é impossível, mesmo que a maré venha em sentido contrário. Qual a moça que nunca sonhou em casar com um príncipe encantado e o rapaz com a mulher dos seus sonhos? Tudo é possível; basta acreditar e querer. Só não se realizam os arroubos de uma determinada época porque não passam de meros devaneios!”
Edson Vidal Pinto