Pingo Nos Is
Tenho um amigo muito especial o Marcos Pessoa - filho do saudoso Plinio de Mattos Pessoa - que além de inteligente é uma pessoa espirituosa e nos brinda quase sempre pelo Facebook com postagens hilárias de frases pronunciadas pela empregada de sua casa, uma verdadeira filósofa do início deste século. Aproveitando das conversas e fatos do cotidiano ela constrói “tiradas” dignas do melhor humorismo de ocasião. Pena que em minha casa a empregada que está conosco há quase vinte e cinco anos não tem este lado engraçado do qual eu possa me valer para dar um molho diferente nas minhas crônicas, pois ela gosta mesmo é de política e é anti-lulista convicta.
Mas de uns dias para cá tenho estranhado o seu silêncio porque ou está esquecida da política ou emudeceu porque não está gostando da atual situação. Ela sempre foi meu termômetro para medir a temperatura dos ânimos politico-partidario-ideológico, com comentários curtos mas preciso para interpretar a opinião de suas colegas de profissão e familiares. Assim, para saber da “preferência” dos eleitores da classe menos abastada arrisquei lhe perguntar:
- E daí, Mariza, como está o Bolsonaro na preferência de suas amigas ?
- Xi, está péssimo. - foi a resposta de inopino.
- Por quê?
- Minhas colegas nem querem mais saber dele por causa da inflação, que está sufocando o nosso bolso …
- E você ? - cutuquei.
- Acho que o Lula não é tão ladrão como dizem e quando ele era Presidente todo mundo vivia melhor …
Encerrei a conversa pois ouvira o suficiente para medir a opinião de muitos que estão na situação de penúria e contra o governo. Isto mesmo : pela possibilidade de passar fome pela alta dos gêneros alimentícios; pela escassez a de empregos ; e pelas reiteradas notícias negativas do governo veiculadas na TV aberta.
É claro que o noticiário tendencioso e desrespeitoso ajuda a formar opinião pública negativa do atual governante. Parei para refletir um pouco e me veio à mente a tendência do eleitorado que a DataFolha teima que é verdade, dando ampla vantagem para o Luiz Ignácio na disputa com o Bolsonaro, cujos percentuais são difíceis de digerir. Mas depois de ouvir o que eu ouvi confesso que estou preocupado. Sem querer aceitar mas parece que o próximo pleito será uma disputa de voto por voto, pois muitos eleitores do Presidente depois do último sete de setembro ficou frustrado quando, no dia seguinte, ele mudou o tom de seus pronunciamentos e procurou amenizar o conteúdo de suas críticas dirigidas ao STF e ao Parlamento brasileiro.
Esta mudança de comportamento e a anterior aliança firmada com o “centrão” da Câmara dos Deputados com certeza não agradou seus simpatizantes. E mais : a sonhada “terceira via” tão esperada por grande parte dos eleitores é um indicativo cabal de que se aparecer na disputa um nome decente poderá aglutinar votos suficientes para sair vitorioso. E a debandada dos apoiadores do Bolsonaro pesará contra a sua pretensão de ser reeleito. E pela atual conjuntura econômica mundial com reflexos negativos no Brasil não será fácil para o governo reverter a inflação e o desabastecimento que virá, tendo contra si uma Imprensa sequiosa por querer retirar a fórceps o seu Mandatário do Poder. Mas como o Bolsonaro ainda está na metade de seu mandato poderá retomar a preferência do eleitorado se souber mexer as pedras do tabuleiro de xadrez, cujo jogo ainda não aprendeu a jogar, por ser sincero demais quando tem um microfone a sua disposição.
Mas como angariar apoio ? Agindo com moderação e firmeza sem falar demais, recompondo sua equipe de trabalho com pessoas certas e descomprometidas, descartando o “centrão” como alavanca de apoio e costurando alianças nos bastidores que possam lhe dar sustentação e governabilidade. Não é um risco para a eleição que se aproxima ? Claro que é, mas será uma jogada de mestre para recuperar a credibilidade e o eleitorado agora indeciso com seu continuísmo. E a inflação ? Por ser um fenômeno mundial é imprescindível uma campanha maciça e inteligente que mostre para os brasileiros que a alta do custo de vida é uma onda que está inundando todos os países, inclusive os mais ricos, mas com o empenho de todos tudo voltará ao normal. Claro que a tarefa será hercúlea pois serão dois Poderes contra um, uma Imprensa raivosa e por enquanto muita gente na fila da fome …
“Parece que um governo honesto perdeu sua credibilidade por falar demais; embora um candidato que foi governo mais desonesto de toda história republicana, que nunca falou uma só verdade, pode estar na iminência de reconquistar o Poder. É o paradoxo na forma de pura ironia.”
Édson Vidal Pinto
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