Poder de Mentira
Tive na minha vida pública toda a sorte do mundo por ter exercido cargos relevantes que me ensinaram a enxergar mais longe do que meus olhos poderiam alcançar. Em cada nova experiência procurei auferir sempre o melhor conhecimento do setor para poder cumprir minhas obrigações com zelo e respeito a Lei.
Quando assumi como Secretário de Estado da Justiça recebi no gabinete a visita de um Conselheiro do Tribunal de Contas (aposentado) que foi me apresentar a sua equipe de assessores responsáveis pela fiscalização das contas públicas da Pasta, gastando saliva com conversa mole e antes dele chegar onde queria eu o interrompi e mandei que a fiscalização fosse intransigente e coloquei um ponto final na conversa.
Esta foi sempre a minha maneira de administrar e exercer meus misteres profissionais com absoluta autonomia. E acho que agi com acerto porque nunca tive problemas com o Tribunal de Contas do Estado e nem da União, quando fui Diretor -Geral da Secretaria de Estado da Segurança Pública, Secretário de Estado da Justiça e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral. Mas a Administração Pública por mais experiência e vivência que se tenha dentro dela tem coisas obscuras e difícil de explicar. Lembro do ensinamento do saudoso homem público paranaense Gal.
Ney Braga numa reunião que teve com estudantes universitários aqui de Curitiba, do qual eu estava presente, quando foi interpelado por um colega que quis saber porque ele na condição de Ministro da Educação não conseguia mudar a política universitária e adotar regras objetivas nos cursos de graduações. Ele ouviu e respondeu:
- Se um dia você estiver no meu lugar vai aprender que qualquer Ministério é movido por uma engrenagem que não para, - tal qual um ônibus que passa pelo ponto de passageiros em movimento e os usuários embarcam mesmo com medo de cair e o veículo prossegue seu caminho-, quem conseguir entrar vai se ajustando aos poucos dentro dele mas nunca conseguirá frear o coletivo. Entendeu? Um ministro por mais competente que seja não conseguirá modificar os erros do passado do dia para noite, pois vai ter que corrigir o que estiver fora de prumo entre solavancos e procurando se equilibrar para não cair.
Foi mais que uma resposta foi uma aula de quem sabia o que estava fazendo. Pois bem, dito isto vou abordar a alta dos combustíveis. Sabemos que o Presidente da República colocou na chefia da Petrobras um general de sua confiança para impedir os reajustes dos derivados de petróleo que estão fora de controle, contribuindo em muito para a inflação. Só que o dirigente nomeado não conseguiu cumprir sua missão. Ele é mais um que tem poder mas não consegue mandar -, está dentro de um ônibus lotado de acionistas sequiosos em obter lucros e com tantos sobressaltos da economia mundial, deve estar amargando dissabores.
Se dirigir um Ministério é difícil imagine administrar uma estatal onde convergem múltiplos interesses, inclusive de seus apaniguados funcionários que também lucram com os ganhos da companhia. A Petrobras deveria ter sido privatizada há muito tempo com a consequente abertura da comercialização e exploração do petróleo por empresas interessadas, a fim de que na competitividade o preço dos seus derivados possam estar ajustados em patamares compatíveis do mercado produtor. É fantasia imaginar que alguém consiga reduzir os preços do combustível ou do gás de cozinha, porque “forças estranhas” mandam mais que o apaniguado milionário que dirige uma estatal sem freios…
“A defesa intransigente de que o “petróleo é nosso” decorreu de uma época em que nas guerras o combustível era indispensável para mover o aparato bélico. Hoje a guerra começa e termina com um simples apertar de botão. A Petrobras é uma estatal que o Estado administra para satisfazer interesses de acionistas. Um elefante branco sem lógica de pertencer à União pois não atende os interesses da Nação”.
Édson Vidal Pinto
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