Ponto Cego
Quando se está no isolamento social e longe da convivência dos filhos, nora, netos, parentes e amigos sempre acabamos mais cedo ou mais tarde na frente do aparelho de televisão. E por mais coisas que se faça dentro de casa a televisão acaba sendo a atração inevitável -, simplesmente porque ela nos escravizou, atraindo todos nós como mosca no mel.
Os canais abertos são lastimáveis, pois, suas programações estão saturadas e quando não tem pastores fazendo milagres a granel tem o impagável “Jornal Nacional” e seus indigestos apresentadores destilando medo, intrigas e ofensas. Para os que “são do contra” é um prato cheio; porém para os demais que esperam por um Brasil promissor é a fórmula para bem sucedido suicídio. Assim só resta assistir os canais pago onde as opções são maiores apesar dos filmes serem sempre os mesmos. A solução então é pinçar dentre tantos filmes da Netflix um para assistir ou como opção alguma de suas séries.
Estas equivalem a uma novela cuja história tem dez ou mais capítulos, com direito a aguardar o seu prosseguimento com novo enredo em uma nova temporada. E tem excelentes séries basta saber escolher. Eu achei que sabia escolher mas na última (em que assisto por birra) de nome “Ponto Cego” dei com os meus “burros n’água”. E tudo por recomendação de uma amiga do coração. A história começa intrigante com uma mulher nua, sem saber quem era, totalmente tatuada, dentro de uma mala colocada em uma calçada no Time Square em Nova Yorke.
A polícia pensando que no interior da mala tivesse uma bomba e que se tratava de ato terrorista chamou o FBI. A partir daí o bureau começa a investigar a moça e suas tatuagens quando então são cometidos crimes na cidade, todos eles interligados com cada um dos desenhos tatuados. E quem assistiu daí em diante a série por favor me conte porque são tantas situações, crimes, socos e perseguições de carros que acabei ficando como a atriz principal da série: totalmente fora da casinha. Perdi o rumo da história que ainda não terminou porque seu autor tanto enrolou que acabou dando nó em pingo de água. Mas como bom “encarcerado” continuo assistindo até chegar o final da série.
Acho que estou tendo sequelas pelo meu encarceramento social pela teimosia que nunca tive e que agora passarei a ter porque não me abandona. Quando terminarem de matar as mamonas assassinas com certeza terei que procurar um psiquiatra e me internar em uma clínica de preferência na Marquês de Sapucaí, em plena folia de carnaval. Será o melhor remédio. Mas por enquanto estamos aqui dentro de casa marcando cada dia que passa com um risco feito com a ponta do prego na parede. Gente, sinceramente ou acabam com o vírus ou nós vamos acabar em uma gaiola de loucos, pois até assistir filme que não estou entendendo eu estou assistindo!
Só falta daqui uns dias assistir vídeo de partidas de futebol de jogos que já passaram; ou então episodios do Chaves ou filmes do Mazzaropi que já assisti mais de mil vezes cada um. Mas deixando a brincadeira de lado e falando sério, olhando olho no olho: quando esse isolamento vai terminar ? Preciso deixar de usar a maldita máscara que não me deixa respirar , que aperta minhas orelhas e me dá dor de cabeça. Só agora começo a dar valor ao Lula quando ele nem usava máscara para roubar. Ele era ousado, destemido e tremendo cara de pau. Será que o Dória ou qualquer outro governador não me presenteia com um capacete de escafandrista?
Só assim poderei suportar minha clausura porque terei a certeza que poderei sair sem ter coceira no nariz. E minha máscara eu vou pendurar na varanda de meu apartamento como símbolo da liberdade que está custando a chegar ...
“Máscara é coisa de bandido, do Durango Kid, do Zorro e de médico. É um pano horroroso que vai sobre o nariz, tampa a respiração, deixa a boca aberta e dá dor de cabeça. Ou nós matamos a mamona assassina ou vamos ter que aprender com a Maria Louca como ele faz para comer sem se engasgar. Talvez seja até melhor ele comer todas elas só para a gente ficar vendo. Será bem melhor que assistir TV.”
Edson Vidal Pinto
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