Presos políticos
Sei que é tabu falar do governo militar de 64, pois no panorama em que vivemos governado por gente que combateu aquele regime ou foi perseguido e teve que se exilar fora do país, escrever a respeito não é tarefa que possa agradar alguns. Principalmente os mais jovens com idade de cinquenta ou sessenta anos, que não vivenciaram aquela época mas que reagem com tacapes e grosserias, quem se atrever a fazer comentários e criticar. A bem da verdade o chamado “período de chumbo” foi absolutamente normal para aquelas pessoas que trabalhavam, não se locupletavam com o dinheiro público, cumpriam suas obrigações como cidadãos e respeitavam as leis do país, pois o regime não alterou em nada as suas vidas. Já bem diferente foi para os que militavam em partidos políticos de esquerda, eram ideólogos ou professavam os ideais comunistas, os inconformados que assumiram o papel de guerrilheiros para assaltar bancos, sequestrar embaixadores e grafitar nos muros e paredes das cidades frases convocando o povo a reagir contra os militares. Parece óbvio que para estes havia pronta reação e enfrentamento. Prisões? Com certeza; cassações de direitos políticos também para expungir da vida pública políticos corruptos; mortes de ambos os lados. Dentre os presos o episódio que mais causou celeuma foi do jornalista Herzog, símbolo e mártir entre os revoltosos. Claro que muitos outros foram presos por atos atentatórios e outros apenas por militância ideológica. Injustiças? Muitas. Num período revolucionário de leis de exceção as arbitrariedades e perseguições sem causa aconteceram por ser possível a delação por mera suspeita. Foram muitos os órgãos de repressão. Mas no conjunto da obra apesar das escaramuças e de uma única guerrilha armada, além de um grupo de comunistas radicais (MR-8) contaminados pelo ódio, foi um período calmo para o país, com obras construídas de grande vulto, onde a segurança pública tinha as rédeas suficientes para controlar a criminalidade e para a grande maioria das famílias reinou total tranquilidade. Os políticos, artistas e intelectuais abonados optaram por viver em países bem mais avançados. E muitos (como o José Dirceu) preferiram ficar no Brasil e permanecer no anonimato recebendo ajuda financeira de governos ou de amigos mais próximos. Mas dos presos políticos o único que eu conheci a “cela” onde o mesmo ficou foi a do Miguel Arraes, ex-Governador do estado de Pernambuco, quando visitei anos atrás o Arquipélago de Fernando de Noronha. Na época tinha um motorista de bugue (único veículo permitido na ilha) que era conhecido como “Cachorrão”, um sujeito folclórico que ficou famoso porque foi personagem de uma matéria jornalística do “Fantástico” (Rede Globo), que levava os turistas para visitarem os pontos mais pitorescos da ilha. Eu perguntei para ele se sabia onde o Arraes ficou preso. Ele riu e foi me mostrar. O lugar é a base da Marinha com algumas construções, casas e campo de futebol. Ele disse que o Arraes ficou em uma das casas e diariamente percorria a ilha, parava muitos vezes para conversar com os motoristas de bugues e almoçava nas pensões do local. Ele disse que tinha dado risada quando eu perguntei onde o governador foi preso, porque na prisão onde ele ficou todo brasileiro gostaria de estar “recluso”. Pois a ilha é um pedaço do céu na terra. Mas com certeza depois que ele morreu a sua família foi indenizada regiamente pelo governo federal, como recompensa pelo mal que a Revolução Militar lhe causou.
Igualmente foram beneficiados os “exilados” , os perseguidos e os anônimos. E do lado de “lá” ninguém foi beneficiado, refiro-me aos que foram mortos, pois o governo destas benesses foi dos que estavam do outro oposto…
“Falar ou escrever sobre a Revolução de 64 é o mesmo que mexer em vespeiro, pois muitos torcem o nariz. Mas é um episódio que faz parte da História do Brasil e como toda a história tem duas versões : uma dos que gostaram e a outra dos que odiaram. O Luiz Ignácio foi o único que orbitou dos dois lados e não saiu tosquiado.
Malandro escolado não tem lado e nem preferência.”