Quando 1o. De Abril Chegar!
O governador Ratinho desesperado com a situação aflitiva do povo que não produz mais nada, que se esconde para poder trabalhar e não tem dinheiro para comprar uma mísera empadinha sem azeitona dentro, prorrogou o lockdown até o próximo dia primeiro de abril. Que baita sacanagem! Fico me imaginando como vencerei o meu resguardo forçado dentre das paredes de meu amado lar, assistindo o Jornal Nacional, lendo a “Isto É” e ouvindo diariamente na rádio Bandnews os assustadores pronunciamentos do governador de São Paulo.
Com certeza minha cabeça estará tão confusa e entumecida como a do Luiz Edison para entender as mais comezinhas regras de Processo Penal. Enfim na data esperada de dois de abril, um dia depois de terminar o decreto ditatorial castrador do direito de ir e vir, acordarei pela manhã e para me sentir em liberdade vou chamar um Uber e percorrerei as ruas de Curitiba. Mas antes de entrar no veículo perguntarei ao motorista:
- Você conhece bem a cidade sem precisar ver no GPS?
O sujeito então vai esboçar um ar de riso e responder:
- Posso tentar ...
- Então vamos para o centro da cidade e pelos bairros num tour de reconhecimento.
E o carro sairá em disparada. Abrirei a janela para sentir no rosto o ar frio de outono e com certeza vou ficar admirado com tudo que meus olhos possam alcançar. De repente uma enorme praça com um monumento de um homem barbudo, modelado em bronze, e perguntarei:
- Quem é o homem?
- Estamos no Marco Zero de nossa cidade e a estátua é do Tiradentes ...
- Você pode me dizer onde fica o seu consultório? Pois estou com um dente começando a doer ...
- Ele já morreu. - Responderá o motorista olhando desconfiado para mim através do espelho do para-brisa.
Explicarei meio sem jeito que tinha ficado dentro de casa no eterno período do lockdown e que não estava lembrando de quase nada. Pedirei desculpas. E o Uber continuará trafegando.
- Nossa que construção é essa? - apontarei com os dedos.
- É a Arena do Atlhetico ...
- Para que ela serve?
- Para jogos de futebol ...
-Futebol? Ainda existe?
- Estava tudo parado, mas ainda existe.
E o carro continuará dando voltas pela cidade. Lá pelas tantas verei uma grande construção e perguntarei:
- E o que é isso aí?
- É a Assembléia Legislativa ...
- E para que serve?
- Não sei muito bem, uns dizem que é para a pessoas enriquecer; mas tem quem jure de joelhos que é o melhor lugar para exercer tráfico de influências. - concluiu o motorista.
E o passeio continuará. Verei tantas lojas fechadas por todos os lugares e perguntarei:
- Por que tanto comércio fechado, hoje não é domingo!
- Foi à falência por causa do lockdown.
- Mesmo? E os restaurantes?
- Idem.
- Putz, mas o que está funcionando então?
- As repartições públicas estadual, municipal e federal. Esta última de braços abertos para receber as declarações de Imposto de Renda...
Foi quando gritarei:
- Chega de ver tanta desgraça; por favor, me leve de volta para casa.
Meu coração estava batendo tanto que parecia pronto para sair de minha boca.
Respirei pausadamente três vezes. Olhei fixo para o calendário de minha escrivaninha de trabalho e cai na realidade que hoje ainda é 18 de março e não 1o. de abril. Ufa o lockdown não tinha terminado. Não posso sair de casa. E pensando no que passarei quando puder andar livremente até gostei de me meu isolamento social.
Em fração de segundos sentei na minha poltrona preferida, peguei para ler a revista “Isto É” e de pronto liguei meu rádio na BandNews, porque o Jornal Nacional só logo mais a noite ...
“Como será o dia seguinte do término do lockdown? Uma cidade chorosa pelas portas fechadas do seu comércio, a população disputando empregos, os empresários contabilizando suas perdas, as crianças temerosas e sem saber onde brincar. E o vírus firme e forte se as vacinas não prestarem!”
Edson Vidal Pinto
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