Quarenta Country Clube.
Hoje, 21 de fevereiro, terça feira.
Como o ser humano é adaptável ao meio social onde vive, viveu ou passou a viver. Não importa a localização e nem o porte da cidade, basta gostar do que se está fazendo para logo passar a conviver em harmonia.
O melhor lugar para viver é onde se é feliz! Não adianta estar no Rio de Janeiro, Nova York, Paris ou Veneza se o modo de vida não satisfaz, se as dificuldades estão ao redor ou se falta o calor humano. Como ser social por natureza todo o indivíduo encontra sempre espaço para conviver quando está em paz consigo mesmo.
Os integrantes do Ministério Público e da Magistratura dentre outras carreiras de igual estrutura que exige percorrer cidades do interior para só então terminar a caminhada profissional na Capital, sabem muito bem avaliar o tamanho da jornada percorrida e a experiência adquirida nos locais de moradia.
Como Promotor de Justiça fui titular da Comarca de Faxinal, cidade localizada entre Mauá da Serra e Ivaiporã, bem no topo da Serra do Cadeado na Rodovia do Café, onde morei com a família por três anos e meio. Eu fui removido de Siqueira Campos para Faxinal a fim de atender interesse do Procurador Geral de Justiça em virtude de uma briga entre um ex-deputado estadual, o Juiz e o Promotor da Comarca, tendo este sido transferido compulsoriamente para Santo António do Sudoeste.
Esse episódio eu contarei em outra ocasião. Eu vou registrar nesta crônica como era na época o palco social daquela pequena cidade. Existia um único clube - o Quarenta Country Clube - que era presidido pelo saudoso Tolstói Mantovanni, que foi goleiro do Clube Atlético Paranaense e da Seleção Paranaense de Futebol, que era chefe de DETRAN da região e casado com a Escrivã do Cartório do Civil da Comarca.
Dai por que quando o Clube realizava bailes de debutantes e outros sempre o Juiz e o Promotor eram convidados, pois o acesso era exclusivo para associados. Certa noite apresentou-se como atração principal do baile o famoso cantor Gregório Barrios e que estava acompanhado de seu violonista. O Clube lotou e a apresentação foi um sucesso.
Estava quase amanhecendo o dia quando o Mantovanni e sua esposa convidaram o cantor, o violonista e algumas poucas pessoas para irem à sua residência onde foi servido canja de frango caipira e lauto café da manhã. Eu e minha esposa fomos privilegiados pelo convite. A reunião estava transcorrendo animadamente e o artista mostrava toda sua simpatia. De repente chegou sem ser convidado o meu colega Promotor de Marilândia do Sul, comarca vizinha, e passou a ouvir conversa.
Este meu colega era solteiro, tocava violão e gostava de "mé". Chegou bastante calibrado, mas ficou calado num canto da sala. Lá pelas tantas o Mantovanni pediu ao Gregório cantar pelo menos uma música e este prontamente aquiesceu.
O violonista tirou do estojo o violão que ele tratava a pão de ló , fez a introdução da música e mal o Gregório começou a soltar a sua potente voz , meu colega saiu do torpor alcoólico e gritou:
- Pare! Pare! Vá tocar mal no inferno!
Ato contínuo avançou em direção ao músico e arrebatou-lhe violentamente o violão.
- Seu Gregório, agora eu vou tocar para o senhor cantar!
A atitude do Promotor foi tão rápida que ninguém teve tempo de reagir. Ele encostou o instrumento em seu peito e quando tentou dedilhar as cordas, ficou com duas delas em sua mão! Ele conseguiu arrebentar as cordas do violão! Acabou a reunião. Com muito custo retirei juntamente com outras pessoas presentes o Promotor da residência e um dos filhos do Mantovanni foi levar o intruso para a cidade onde morava.
As circunstâncias do ocorrido foram à fofoca do mês! Era assim a vida social da pequena Faxinal, tal como na cidade grande tudo podia acontecer de bom e de ruim. Esta foi uma cena retratada em que valeu mesmo foi o baile, ouvir o grande Gregório Barrios e saborear a canja de galinha caipira no amanhecer do dia. Velhos tempos, belos dias...