Que Fique Apenas Entre Nós!
A vida apronta cada uma que é difícil de acreditar. E não escrevo apenas do que acontece nos sonhos e pesadelos, como, também, na vida real. Tenho um amigo cujo pai foi um antigo comandante da Varig, de viagens internacionais, que me contou que quando o pai se aposentou ele passou a ter pesadelos em que o avião que ele pilotava caia no mar por falta de combustível.
Ele acordava com o pijama encharcado de suor. Confesso que ouvi e achava estranho, pois eu sabia que o comandante Kirchner não começava nenhuma viagem sem antes medir com uma vareta o nível do tanque de combustível da aeronave, por não confiar apenas no medidor do aparelho de bordo. Ele era um profissional competente e precavido. Pois não há de ver que desde minha aposentadoria eu de vez em quando tenho pesadelos com cenas ocorridas comigo dentro do Tribunal de Justiça? E acordo com coração acelerado e suando.
E o episódio é sempre o mesmo: me aposentei e deixei três processos do qual eu era relator, sem julgar. E o pior de tudo que os processos estavam com carga de distribuição para mim e simplesmente desapareceram, eu não sabia onde poderiam estar. E por isto era sempre cobrado pela Presidência do Tribunal para proceder às devidas devoluções. Juro que não sei por que tenho seguidos pesadelos por isso, pois jamais me descurei de minhas obrigações funcionais e nunca atrasei ou descumpri os prazos processuais. Quando deixei de trabalhar recebi uma certidão atestando que devolvi todos os processos que me foram distribuídos e não deixei nem um sem julgar.
Portanto eu sei que são pesadelos sem nexo mas que sempre me atemorizam. Daí fico pensando como certos episódios frutos do subconsciente ou não, acontecem; é por isso que ninguém pode dizer que “desta água não beberei”.
Pois, é. E você já ouviu dizer que alguém dormindo caiu da cama. É surreal só de imaginar. Uma criança tudo bem, mas um adulto é inimaginável. Eu também pensava assim, até esta última noite. Não há de ver que caí da cama quando estava sonhando que estava jogando futebol? Juro que é verdade, pois jamais inventaria escrever uma besteira dessa, até porque não me exporia a uma situação ridícula para fazer alguém dar risada. Joguei futebol de salão e futebol de pelada até completar sessenta anos, depois parei e nunca mais chutei uma bola de futebol.
E quem conviveu comigo naqueles anos pode testemunhar essa verdade.
Eu de vez em quando sempre jogo futebol quando estou dormindo e minha mulher sempre me acorda com medo de levar um chute. Ela diz que eu faço movimentos contínuos com minhas pernas e eu sonho que estou disputando com algum adversário a bola. Na madrugada de hoje fui chutar a pelota e cai literalmente da cama e fui parar no chão. Felizmente não bati a cabeça na quina do criado-mudo e só arranhei um pouco o meu ego e o pulso do braço esquerdo.
Minha mulher acordou dando um pulo da cama, assustada e não conseguiu mais dormir. Tive dificuldades de levantar do chão, pois me senti um verdadeiro ancião. Sinto que estou com o corpo dolorido por causa do tombo. Estou escrevendo e dando risada comigo mesmo porque não posso negar para ninguém, de hoje em diante, que dormindo eu caí da minha cama. Só estou narrando este episódio tão inusitado por saber que você vai ler e não vai comentar com ninguém. Fica só entre nós, está bem?
“Cair da cama dormindo é coisa de criança. Eu sempre pensava assim até esta madrugada. Hoje tenho certeza que pode acontecer com qualquer mortal. Não ria, pois seu dia com certeza chegará. A não ser que você nunca tenha disputado uma única partida de futebol!”
Edson Vidal Pinto
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