Que Trânsito Maluco!
Ontem, 27 de dezembro, terça feira. Parecia uma cena do filme de ficção "O Dia em que a Terra Parou", quando olhei da varanda do meu apartamento a Rua Padre Agostinho nas imediações do bosque da Copel, e não vi um só carro trafegando. E era a hora costumeira do congestionamento!
Logo pensei: será a crise financeira? Subiu a gasolina e ninguém pode abastecer o carro? Ou será que um ET abduziu os motoristas? Esperei aflito longos dois minutos quando surgiu na rua um veículo passar, depois outro, esperei um pouco mais e passou outro, e então pude respirar aliviado. A terra estava salva! Daí me dei conta que é um fenômeno cíclico que ocorre em Curitiba de ano em ano, principalmente entre o Natal e o Ano Novo. A cidade fica vazia porque grande parte da população vai para o litoral! Que crise que nada, o brasileiro sempre dá um "jeitinho" para burlar a dita cuja.
E como é bom "curtir" a nossa cidade neste pequeno intervalo de paz e serenidade. Parece que voltamos para os anos dourados de 1950/60, quando as pessoas se conheciam, trocavam cumprimentos, sorriam com mais espontaneidade, sem receio de sofrer violência e podiam conversar despreocupadamente nas esquinas do bairro com seus vizinhos mais próximos. Época que dava para ir a noite ao centro da cidade assistir um filme no cine Avenida, depois comer um salgadinho na Confeitaria Stuart e voltar a pé para casa.
E no dia seguinte, parar o carro na Praça Osório e andar pela Comendador Araújo para apreciar as vitrines da Glaser, esquina com a Av. Visconde do Rio Branco, ver as novidades da Slaviero ( do outro lado da rua) com a exibição dos novos lançamentos dos veículos Ford, e finalmente entrar na Sociedade Thalia para um bom jogo de boliche. Tudo isto porque a cidade voltou à calma e os que aqui ficaram foram arrebatados pela nostalgia do passado.
É bom até almoçar fora onde ninguém fica sobrando, nem ouvindo alguém gritar no telefone celular e nem falando alto, como se estivesse em perigo de vida. Neste oásis de tranquilidade me lembrei do um saudoso e querido tio que muitos anos atrás foi a cidade da Lapa, terra de minha mãe e de meus avós maternos, e hospedou-se no Hotel Zappa com minha tia, esta também lapiana, e logo depois começaram a andar a pé pelas ruas tranquilas da cidade e de pouquíssimos veículos , de repente ele começou a gritar :" Gente, por favor Chega de tanto silêncio ! Meus ouvidos não aguentam mais : entrem nos seus carros e buzinem, por favor "!
Foi um surto momentâneo e de nenhuma sequela. Só espero não repetir a cena desesperada de meu tio. Por enquanto estou aguentando o silêncio e a calma de nossa cidade com galhardia e serenidade.
Amanhã, quando eu acordar, não sei se sentirei ou não a falta do agito, do corre corre, das filas do banco, dos supermercados lotados, das disputas dos taxistas com o Uber, da sirene dos ambulâncias, das raivosas buzinas e freadas dos motoristas estressados, das notícias da Globo detalhando os conteúdos de novas delações premiadas, dos políticos desesperados, dos governantes empobrecidos e do Supremo Tribunal com suas novas trapalhadas.
Mas confesso, se sentir um pequeno arrepio de arrependimento por ter permanecido enclausurado em nossa pacata e quase deserta Curitiba, vou receber um antídoto injetado diretamente na veia e vou com a família passar o Ano Novo em Guaratuba!
Lá, com certeza absoluta, vou brutalizar meu ego. Tranquilidade assim, jamais !!!