Quero Ser Bandido e Não Vítima!
Curitiba está linda nas vésperas do Natal e Ano Novo, parece que ganhou uma nova roupagem e os figurinos natalinos voltaram a reinar nas praças e vias públicas. Não sou Rafaelino desde que ele se envolveu com o Requião, mas devo reconhecer que ele sabe muito bem decorar com mil purpurinas a sua Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
Ele é claro com a sua inseparável Magarita. Enquanto tirava minhas conclusões, sentado na minha poltrona favorita, olhei de relance na TV Justiça. Comentário sobre a mesma ladainha do Indulto de Natal do Presidente Temer. Uma excrescência jurídica. Pedido de vista do min. Fux, atropelado pelos votos antecipados que por maioria deve manter hígido o decreto combatido pelo MP Federal. Aborrecido desliguei o aparelho de TV. Chega de ouvir estultices.
Estou demasiadamente crítico e impaciente. Deve ser o mal da idade. Recolhi-me nas minhas elucubrações. Pensei um pouco e logo concluí que vale mais a pena ser bandido do que cidadão ordeiro. Explico: bandido mata, rouba, comete atrocidades, lesa a Pátria, estupra, invade propriedade rural, traficam drogas, comanda os jogos clandestinos, vive do desmanche de veículos furtados, dirige licitações, assalta bancos, chefia o lenocínios, corrompe menores, bate em mulher e se perseguido pela polícia reage e é morto, não teve sorte.
Mas se é preso fica respondendo interminável inquérito e processo em uma cela de delegacia de polícia. É um período chato, porque tem muita gente. Mas tem advogado gratuito para apor defesa. Se tiver sorte o Gilmar manda soltar através da concessão de habeas corpus. Caso seja condenado é “implantado” em uma penitenciária e passa mensalmente a receber auxílio reclusão (vale mais do que um salário mínimo), tem alimentação, psicólogo, médico, dentista, hospital, comida, cama, visita íntima, assiste TV, ouve rádio, usa celular (escondido) e não trabalha.
E caso não agrade as companhias basta promover uma pequena rebelião para ser transferido para outra unidade prisional. E se a comida não for boa basta reclamar para um defensor público ou para uma ONG de direitos humanos.
A solução vem rapidamente. Vantagens? Muitas. Vejamos: não tem que trabalhar, não se preocupa com o Leão do Imposto de Renda, não tem horário a cumprir, nem fila de ônibus, não paga prestação, lê gibi, a Bíblia, joga futebol, tem rodinha de samba, não precisa visitar a sogra, joga baralho, cospe no chão, risca as paredes e deixa o tempo passar sem maiores surpresas.
Pode sair do presídio no dia das mães. E no final do ano vem o indulto de Natal recheado de inconstitucionalidade e a prisão acaba. Nova vida com o reinício do mesmo ciclo vicioso. E enquanto o indulto não chegar vamos conferir as desvantagens de continuar preso: não poder tirar férias, não pular o carnaval, não brigar com a mulher, nem com a sogra e muito menos flertar com a mulher do vizinho.
Malandro que é malandro não fica de birra com a vida, tira partido dela. Agora ruim mesmo, para não dizer péssimo, é ser a vítima. Fica chupando pirulito porque ninguém vai lhe socorrer, avaliar a perda que teve ou aferir as necessidades para subsistir, nem aparece uma única assistente social, nem um defensor dos direitos humanos, muito menos um defensor público para resguardar eventuais direitos. Ser vítima é sofrer na alma, no corpo e no bolso sem merecer nenhuma atenção do Poder Público.
E o pior, se sobreviver tem que pagar hospital, remédios, emprestar dinheiro do tio, perde o emprego, fica sem trabalhar, acaba se separando da mulher e fica freguês do bar da esquina.
E se morrer, em uma semana ninguém lembra que morreu e a família fica brigando porque não tem dinheiro para pagar o funeral. Putz, só espero que nenhum mal intencionado resolva mudar de lado, mesmo porque ser vítima tem a grande vantagem de poder colocar a cabeça no travesseiro a noite e dormir...
“Às vezes dá raiva não ser bandido, sacana, peculatário, ladrão, corrupto, governador do Rio de Janeiro ou guerrilheiro. Porque ser honesto e trabalhador é tarefa heroica. O malfeitor tem todas as benesses do Estado; as vítimas são ignoradas e logo esquecidas. Esse é o verdadeiro mundo cão!”
Edson Vidal Pinto