Rádio: um desserviço à cultura
Sempre fui ouvinte assíduo de rádio pois minha geração viveu a época de ouro da radiofonia, com emissoras poderosas transmitindo para todo o Brasil. Lembro que na casa dos meus saudosos pais a preferência recaia sempre na Rádio Nacional do Rio de Janeiro com o seu estúdio e auditório no último andar do Edifício da Noite, contendo uma programação eclética com novelas, notícias, esportes e apresentações de grandes cantores que eram ídolos do povo. No humorismo tinha o programa “Balança mas não cai” e no programa de auditório o consagrado locutor César de Alencar comandava a boa música, irradiando alegria e diversão. E de hora e hora ou quando a notícia era urgente ia ao ar o “Reporter Esso”, na voz vibrante de Eron Domingues. Quem não lembra das transmissões esportivas de Édson Leite comandando a “Cadeia Verde e Amarela do Norte ao Sul do País” pela rádio Bandeirantes de São Paulo, nas gloriosas jornadas esportivas? E do Coli Filho com sua parada de sucessos musicais pela rádio Tupi de São Paulo?
Na época do carnaval todas as rádios apresentavam as marchinhas que irradiavam alegria com letras simples e divertidas, bem ao gosto dos foliões. A rádio sempre foi um veículo de comunicação útil por ser educativa e ao mesmo tempo informativa, situando os ouvintes nos acontecimentos do mundo. É claro que também tinha o lado brega, com músicas de baixa qualidade e programações sofríveis, com pastores timidamente usando dos microfones apenas para preencher horários ociosos. Portanto não atrapalhavam. Pois, bem. Trouxe meu radinho de pilha para Guaratuba na esperança de um momento ou outro ouvir e me distrair com coisa diferente. Ledo engano. Só é possível pegar no dial apenas duas estações locais: as rádios Litorânea e a Alternativa. As programações são idênticas e o repertório das músicas a mesma caipirice de sempre. Cantores de péssimo nível musical e letras de músicas que atentam contra a língua portuguesa. A primeira rádio pertence ao deputado estadual Nelson Justus que tem em Guaratuba o seu reduto eleitoral, um atentado contra a cultura local e um desserviço prestado aos seus eleitores. A bem da verdade música popular brasileira e sons de famosas orquestras não têm mais espaço nas programações das emissoras, que só promovem barulheiras e cantores medíocres que mais gritam do que cantam, numa parafernália musical sem o mínimo bom gosto. Será que Nelson tem a pachorra de ouvir as músicas que tocam na sua emissora? Eu tenho minhas dúvidas. Diferente do Ratinho (pai) que deve ter mais de cem concessões de emissoras de rádio espalhadas pelo Brasil, que gosta e aplaude a musica de baixo nível, tanto que apresenta ditos “cantores” uma vez por semana num dos seus programas de TV. É um comunicador que ao invés de elevar a cultura do país - com uma programação mais qualificada e de bom gosto - continua apresentando a caipirice mais chão. A rádio deveria servir para prestar serviço educativo e cultural à população, não para delimitar o bom gosto do povo. Em razão da modernidade foram extintas as transmissões via AM cujas ondas sonoras se propagavam para mais longe, principalmente a noite, quando o rádio-ouvinte tinha oportunidade de ouvir emissoras de outras cidades e estados, enquanto que a transmissão FM permite receber um som melhor, porém, sua distância é limitada. Aqui em Guaratuba de dia ou de noite só dá para ouvir as nominadas estações locais. Um caminho curto para depressão e o suicídio. E aí o
pior de tudo é que ninguém se interessa em mudar ditas programações e banir os padres e pastores de fazerem pregações e milagres através da rádio, com contribuições de duvidosa fé. Pelo visto o rádio está dando seus últimos suspiros pois está faltando bons dirigentes, programadores, criatividade, cultura e bom senso aos seus comunicadores, gente que parece odiar os ouvidos alheios…
“É irritante ouvir no radio músicas e pregações que incomodam a paciência dos ouvintes; esta gente está acabando com o bom rádio. Música caipira, universitária e de sofrência já chegaram no limite, por isto deveriam ser tocadas entre quatro até as sete horas da manhã de cada dia. E os pastores e padres após a Hora do Brasil até as zero horas. No mais deveriam ser programadas músicas populares, orquestradas, internacionais e noticiário de alto nível. Única fórmula para salvar o rádio.”