Réquiem.
Sábado, 17 de junho de 2017, sábado.
Meu personagem de hoje é o Chico, de saudosa memória, foi funcionário do Tribunal de Justiça e tinha um temperamento respeitoso, porém muito brincalhão. Ele foi ascensorista do elevador privativo dos desembargadores e Juízes de Alçada, estava sempre disposto e irradiava alegria.
Todos gostavam muito dele, tanto que guando faleceu foi colocada no hall de entrada dos elevadores uma placa de bronze em sua homenagem. Lembro que certa feita, com sua irreverência provocou o então Juiz de Alçada, Dr. Dilmar Kesler, que era ciclista habitual, para um desafio: uma ida e volta de bicicleta até Morretes.
O Chico não acreditava que o Dr. Dilmar pela idade que tinha tivesse preparo físico suficiente para aguentar tão longo e difícil trajeto. E de tanto provocar, o desafio foi aceito. Num sábado, igual ao dia de hoje, ele, um seu filho adolescente e o Juiz, com suas bicicletas iniciaram a competição. Na ida, como é Serra abaixo todo Santo ajudou, e ao chegarem à bucólica cidade, localizada à margem do rio Nhundiaquara, almoçaram e descansaram por algum tempo sob a sombra de uma frondosa árvore.
O problema foi o retorno, quando o ciclista precisa mostrar o seu preparo físico. O Chico e seu filho foram deixados para trás pelo Dr. Dilmar que não enfrentou dificuldade alguma para retornar à Curitiba. Este só foi alcançado quando estava próximo do Jardim Botânico e foi parado pelo motorista de uma camioneta, que estava transportando na carroceria os dois retardatários.
Aconteceu que nem o Chico e nem seu filho conseguiram pedalar a bicicleta pelas intermináveis câimbras que tiveram tudo pela falta do necessário preparo físico. Esta história "correu" no Tribunal e daí, quando alguém entrava no elevador não tinha um que não chateasse com o Chico pelo retumbante fracasso.
Era por assim dizer a Lei do Retorno, o gozador passou a ser gozado. Sem contar que ele ficou alguns dias de "molho" porque suas pernas não conseguiam sustenta-lo. A partir daí, o Chico sempre dizia, para se vingar, que se um dia ganhasse na loteria a primeira coisa que ele iria comprar era o prédio do Tribunal com todos os "funcionários" mais graduados para trabalhar para ele.
Seria o desejável prêmio pelo bullying que estava sofrendo, tudo por ter querido ser um "besta" por desafiar um "senhor"ciclista! Este era o Chico, um sujeito simples, querido por todos, que soube agradar e figurar em mil histórias. Nunca ganhou na loteria, mas com certeza sempre ganhou amigos!
Apesar do ambiente respeitoso do Tribunal sempre imperou uma harmoniosa alegria nos corredores e elevadores, com histórias protagonizadas por autoridades judiciárias e funcionários que se fossem compiladas com certeza daria alguns livros. Tempos de autoridade, dos cabelos brancos, das togas impolutas, das amizades sinceras e de respeitoso reconhecimento dos jurisdicionados.
Ah! Que saudades...