Reviravolta
Tem gente que apanha na vida porque quer, pois tem tudo para dar certo mas não sabe escolher o traje para participar da festa que pretende ir. São indivíduos que não tem desconfiômetro do que quer preferindo ouvir e fazer o que os outros querem por comodismo ou falta de decisão própria.
Na política aquele que quer dar o primeiro passo e aspirar sucesso nas urnas deve ao menos transmitir coerência aos eleitores-, não quanto a fidelidade partidária porque isto de mudar de partido é corriqueiro e atende as conveniências de cada um, mas é necessário agir com prudência, bom senso e sem tirar os pés do chão.
No caso concreto o Sérgio Moro está fazendo o papel de uma barata tonta que recebeu um jato de inseticida e está mais desnorteado do que cão abandonado. Saiu do cargo de Ministro da Justiça a um passo de ser nomeado para o STF, de maneira melancólica, mostrando para a Imprensa conversa gravada dos bastidores palaciano que não pegou muito bem porque cuspiu no prato que comeu.
Poderia ter saído com elegância e sobriedade. Mas optou por querer fazer um estardalhaço que não teve o eco esperado. Depois foi obrigado a digerir a decisão do STF que lhe atribuiu o pejo de juiz parcial quando presidiu os processos da Lava Jato. Na tentativa de retomar a vida profissional foi trabalhar nos EEUU contratado por um escritório de consultoria que recuperou financeiramente empresas que amargaram prejuízos em virtude de atividades investigadas na Operação Lava Jato. No mínimo estranho. Daí recebeu convite dos três obscuros senadores do Paraná para voltar ao Brasil tendo ingressado no Partido Podemos com a promessa de concorrer ao cargo de Presidente da República, uma pretensão absurda pelo então cenário já polarizado da disputa.
No entanto foi uma jogada magistral do Álvaro Dias que objetivou alijá-lo de ser seu adversário na única vaga disponível à Câmara Alta. De repente, para surpresa geral, mudou de partido e de companheiros políticos para concorrer ainda à Presidência mas pelo estado de São Paulo com a promessa de ter mais dinheiro para campanha e por ser um estado com maior densidade de eleitores.
Decorrido algum tempo foi convencido a disputar um cargo de senador por aquele mesmo estado e assim foi mantido em banho Maria. Só esqueceu que teria de ter domicílio eleitoral com prazo certo e definido pela Legislação Eleitoral para concorrer às eleições por São Paulo e acabou sendo impugnado. Ficou na rua da amargura e com uma mão na frente e a outra atrás.
No jornal “O Estado de São Paulo” declarou que não vai recorrer da decisão e sim concorrer ao Senado da República pelo seu estado de origem. Uma reviravolta caleidoscópica. E agora ? Ninguém duvida que o Moro tem muitos eleitores no Paraná e que tem tudo para ser eleito, porém perdeu a oportunidade de concorrer também para o Senado porque deixou fluir muito tempo e com suas indefinições também perdeu muito de seus eleitores.
Terá que concorrer contra dois ex-governadores Álvaro Dias e Orlando Pessuti e um outro indicado pelo Bolsonaro que é oriundo de Londrina, a mesma região que tentará cooptar votos. Tarefa que se tivesse optado desde que decidiu entrar na política seria vitória certa mas que agora ficou muito difícil.
No entanto se calçar a sandália da humildade e concorrer à Assembléia Legislativa do Paraná só não será um dos mais votados como também se credenciará futuramente como candidato natural ao governo do estado. Ainda dá tempo de ajustar a sela antes de cair do cavalo.
É só colocar a cabeça para trabalhar e sair em campanha sem mais surpresas e nem rodopios. Mas como não aparenta dar ouvidos para os mais experientes só lhe restará dizer a famosa frase de César, antes de atravessar o Rio Rubicão e marchar com suas legiões em direção à Roma : “A sorte está lançada !” E seja o que Deus quiser …
“A política é palco em que vale quase tudo: mudança de partido, traições, alianças impossíveis, agressões verbais, mentiras e até escândalos. Mas para os eleitores duas coisas são imperdoáveis: quando o candidato não saber o que quer , ou troca seu estado para concorrer no do vizinho.”
Édson Vidal Pinto