Rica Cidade Ferida.
É bom viajar para conhecer lugares e suas histórias; algumas cidades encantam pelo modernismo de seus edifícios, a qualidade de vida dos habitantes e pelo bucolismo de seus recantos. Também tem aquelas que serviram de palco para os acontecimentos históricos e preservam no seu aspecto ares de um passado distante.
E como cada lugar tem suas próprias características é difícil para o viajante eleger aquela que melhor lhe agrada, pois tudo depende do momento que cada pessoa viveu dentro dela e guardou como melhor recordação.
Nesta crônica vou me reportar sobre uma cidade que carrega o estigma de ter sido palco de um acontecimento trágico, que calou profundo no espirito de seus habitantes. Conto porque acho que poucos conhecem desta cidade e a angústia de sua gente. Tempos atrás, na minha vida pública como desembargador do Tribunal de Justiça fui escolhido pela Escola Nacional de Formação de Magistrados (Enfam) para visitar os Estados Unidos a convite do Governo Americano.
Foi uma viagem de vinte e quatro dias naquele país para conhecer a estrutura do Poder Judiciário e discutir com colegas temas de interesse comum, principalmente de aspectos processuais face o alto custo dos processos daquele país. Fui compondo uma comitiva de seis Magistrados: eu pelo Paraná; uma Desembargadora Federal do Rio Grande do Sul; um Desembargador do Amazonas; um Desembargador Federal de Brasília e dois Juízes Federais de São Paulo.
Foi em Washington que recebemos a identidade americana, a carteira de Seguridade Social e dólares para cobrir os gastos de nossa estadia. No périplo pelas varias cidades e estados vou me ater diretamente sobre os dias em que fiquei na bela cidade de Dallas - Texas, onde tomei conhecimento da preocupação de seus habitantes em querer mudar a triste sina que maculou sua história: o assassinato do Presidente John Kennedy.
Foi na campanha de reeleição presidencial que Kennedy desembarcou em Dallas e quando percorria suas ruas, em carro aberto, ao lado da esposa e do governador do estado, da janela de um edifício de cinco andares Lee Osvald com uma arma de fogo atirou e feriu mortalmente o Presidente.
Circunstâncias até hoje envolta em mistérios. Embora passados mais de cinquenta anos daquele trágico acontecimento os habitantes de Dallas ainda tentam desmistificar a herança deste fato, acolhendo os convidados que visitam o lugar da maneira mais acolhedora possível.
E como visitantes tivemos o privilégio de sermos, cada um de per si, convidados para jantar na casa de uma família anfitriã. Todos os habitantes da cidade têm seus nomes no livro de anfitriões da Prefeitura Municipal e ficam na fila de espera para saber quando chegará à vez de recepcionarem os visitantes.
No horário previamente combinado meu anfitrião, um jovem engenheiro nascido na cidade, foi me buscar de carro no hotel. E sempre fomos acompanhados de um intérprete independente de saber ou não falar inglês. Ele morava em um bairro nobre, casas de luxo e de ampla área verde. Sua esposa era chinesa, professora de línguas da Universidade de Dallas e ambos tinham um filho com um pouco mais de um ano de idade.
Na conversa que tivemos é que fiquei sabendo o porquê dos convites das pessoas do local; ele apesar de jovem disse que a morte de Kennedy entristeceu toda a Nação e estigmatizou a cidade.
E o jantar que estava sendo oferecido era simbólico, pois tinha a intenção de cativar os convidados para que tivessem a melhor impressão de Dallas. Foi uma noite maravilhosa que terminou com troca de presentes.
E como hoje me lembrei daquela recepção emblemática, aproveita do espaço para contar algo pitoresco sobre uma cidade belíssima, localizada em um dos estados mais rico dos Estados Unidos e que se empenha em não ser mais estigmatizada.
Uma coisa é certa: no Texas tudo é grande, a extensão das pistas do aeroporto de Dallas é a maior do mundo; os cavalos são enormes, as ruas e estradas são largas, os poços de petróleo em propriedades particulares são inúmeros e tenham a certeza que os corações dos moradores de Dallas são do tamanho do mundo...
“Cada cidade e cada povo tem sua história. Umas vivem pela história e outras sucumbem por causa dela. Os acontecimentos grandes e pequenos podem rotular uma cidade, mas são seus habitantes os únicos heróis para reverter situação fortuita!”
Edson Vidal Pinto