Rio de Lágrimas.
Como é triste ler, ouvir e assistir notícias do Rio de Janeiro pois dá a impressão que lá é uma cidade sem ordem e nem lei. Todos os dias são tiroteios, mortes, assaltos, violência policial, ações de traficantes e uma assembleia Legislativa composta de políticos da pior espécie.
Tive a oportunidade de conhecer a “Cidade Maravilhosa” em três oportunidades diferentes -, a primeira aos nove anos de idade quando meu pai levou a família de trem e dormimos uma noite no vagão dormitório, passando pelo estado de São Paulo até chegar na estação da Luz, no Rio.
Lembro que visitamos a Praça Paris, tomamos banho de mar na praia da Urca, andamos ao longo da Avenida Atlântica em Copacabana, subimos de bondinho no Pão de Açúcar e assistimos no auditório da Rádio Nacional ao programa do Cesar de Alencar. O povo da cidade era malemolente, largado, brincalhão e prestativo. Em cada esquina uma banca de jogo do bicho na calçada, homens de terno claro e mulheres bem vestidas.
O sotaque do povo chamava a atenção dos turistas e os artistas do cinema nacional e os cantores, eram ídolos dos brasileiros. Era possível andar pelas ruas sem maiores preocupações. Aquela viagem deixou gratas recordações em minha memória. Depois, quando Promotor de Justiça, casado e com dois filhos, aproveitava as férias forenses de janeiro para passar o mês com a família em um apartamento alugado da d. Odete Laporte, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ao lado da “Confeitaria Cirandinha”, quase esquina com a Rua Santa Clara, há duas quadras da praia (Posto 6).
Tradição mantida por dezessete anos seguidos com muitos Anos Novos festejados nas areias festivas de Copacabana. E tudo terminou de repente: quando num sábado, à tarde, na praia, uns turistas franceses foram assaltados a mão armada e como eu estava muito próximo, embora não tivesse percebido a ação delituosa, um dos assaltantes passou por mim e de inopino me deu uma cabeçada no rosto, quebrando meus óculos e abrindo um corte profundo em minha testa.
Fechei os olhos, pensando que tinha levado uma bolada, para logo ser atendido por pessoas que estavam no local. Depois de medicado em uma farmácia voltei para o apartamento e disse para minha mulher que nunca mais voltaria para o Rio. A violência estava começando também a escalar as favelas nos morros.
Era então governador o caudilho e verborrágico Leonel Brisola, o gaúcho que desgraçou a vida dos cariocas. E há anos atrás, rompendo com minha promessa, voltei ao Rio onde eu e minha mulher ficamos hospedados no Hotel Pestana, em Copacabana (para matar a saudades), e receosos não passamos do espaço muito bem vigiado pelos seguranças do hotel, na área reservada da areia da praia exclusivamente para os hóspedes.
Depois sim, não voltamos mais para a cidade mais bela do mundo. E hoje então, só violência, bandidagem e muito medo (pelos menos para os turistas). O carioca não é mais o mesmo pois vive desconfiado e mora dentro de prédios gradeados. Na zona sul o policiamento é bem melhor, mas o mesmo não ocorre no centro, na zona norte e nos morros onde a violência é rotina e as balas perdidas fazem vítimas sem escolher idade. Os policiais - com raras exceções - são os mais perigosos e indesejáveis do mundo, pois estão sempre à mercê do suborno porque não são e nunca foram valorizados pelos governantes.
O Wilson Witzel o governador, ex-juiz federal que eu conheci num evento jurídico quando ele presidia a Associação dos Juízes Federais, me impressionou muito mal pelo seu jeito e ideias um tanto obtusas que expôs quando fez uso da palavra. Me pareceu um homem limitado pelo corporativismo tosco.
Acho que ganhou as eleições porque foi protagonista em um pleito onde predominavam adversários mancomunados com a corrupção e ele foi como novidade a melhor opção. Daí a sua reação espontânea quando um policial acertou um tiro na cabeça de um sequestrador na porta de um ônibus, reagindo como se fosse um troféu a ser comemorado.
O Rio infelizmente perdeu a graça e o sorriso malicioso de seu malandro, despreocupado e aproveitador. Entre trancos e barrancos o Governo estadual sobrevive entre tragédias diárias e crise econômica, sem fazer frente à bandidagem e a violência que tem matado inocentes. Esta precisa de uma operação efetiva do Governo Federal, sem tréguas e numa ação de guerra sem retorno e nem armistício. Enquanto este dia não chegar o Rio não passa de rio de lágrimas...
“O Rio de Janeiro é a mais bela cidade do mundo -, ela é incomparavelmente linda.
Porque tem montanhas ao lado do mar, um povo hospitaleiro e que sabe como ninguém viver a vida.
Mas o estado perdeu a guerra contra a bandidagem. A violência é uma constante que tirou a tranquilidade da cidade. Urge a retomada da lei e da ordem. O Rio não pode mais ser um rio de lágrimas!”
Edson Vidal Pinto