Rua Santa Catarina, 15.
Quando penso em escrever tem dias que sou envolto pela nostalgia e me vem na lembrança cenas inesquecíveis de minha infância, tenho saudades de meus tios, tias e primos e amigos que vivem no meu coração. A irmã mais velha de minha mãe de nome Juvelina ( tia Negra ) de saudosa memória, foi casada com o empresário do ramo de madeira Emílio Merlin que tinha sua empresa instalada na Av. República Argentina com o nome fantasia de “Merlin & Irmão” (Ermelino Merlin) e residiam na Rua Santa Catarina, 15 -bairro Água Verde. A casa de meus tios era de madeira, com peças amplas, muito bem conservada e foi construída em uma área de terras que tomava grande parte do quarteirão.
Na área dos fundos tinha uma calçada de lajota que servia de quadra de basquete e outras brincadeiras e que terminava em uma construção, também de madeira, que era para meus primos (Euler e Elcio) estudarem. O primeiro que era o mais velho formou-se em engenharia civil e foi professor da cadeira “Pontes e Estradas” da UFPR.; e o o segundo graduou-se em biologia e foi um destacado professor da área. E atrás desta construção tinha um imenso pomar com muitas árvores frutíferas como Pereiras, Laranjeiras, Ameixeiras e abacateiros que era o espaço preferido das crianças e adultos pela qualidade e sabor das frutas. A família “Merlin” era tradicional no bairro e quase todos os irmãos de meu tio moravam pela vizinhança com os pais oriundos da Itália.
E cultuando a velha tradição italiana minha tia que que era lapiana foi obrigada a aprender a fazer famosos pratos típicos daquele país; lembro muito bem quando ela fazia polenta que era colocada sobre uma bandeja de madeira e a família cortava a mesma com barbante e servia as porções dentro do prato, acompanhada de franco na caçarola com molho e salada de radiche. Para os adultos minha tia fazia cerveja e para as crianças gasosa de gengibre, feitas artesanalmente. E por ser a irmã mais velha todo o domingo a residência era ponto de encontro de toda a família (irmãs, cunhados e sobrinhos). As vezes havia um início de rusga entre elas mas nada que não acabasse por ali mesmo. Era uma típica reunião familiar que se repetia anos após anos.
Meus primos e eu íamos brincar nos vagonetes que carregavam toras de madeira sobre trilho na fábrica do tio, ou no quintal da casa : as brincadeiras variavam de “cela”, pião, futebol, basquete, carrinho de rolimã ou de “mocinho e bandido” ou de guerra. Sempre com intervalos regulares para comer as frutas do pomar. Meu tio Emílio foi um grande jogador do Coxa e da Seleção Paranaense tendo sido vice-Campeão Brasileiro pelo CFC em 1.928 no Rio de Janeiro, quando foi derrotado pelo Fluminense. Nos sábados ele e os cunhados irmãos de minha mãe : o Nide (que também jogou no Coxa), Oscar (que jogou no Furacão), Tico ( ex-Ferroviário) e meu pai (apelido Nascimento que jogou no Savóia) disputavam torneios de várzea jogando no mesmo time. Tinham uma coleção de taças.
Era assim o jeitão das famílias de ontem cada qual com sua maneira de ser e viver -, lutando para sobreviver, para manter em pé a família e zelar pelo futuro dos filhos. Os mais velhos eram venerados e ouvidos quando falavam e os afilhados beijavam a mão da madrinha e do padrinho quando chegavam ou iam embora. Com meus setenta e seis anos não esqueço daqueles que fizeram de minha infância um paraíso na terra, com momentos preciosos que guardo na memória. Claro que tenho sempre os pés no chão para nunca me abstrair da realidade, apenas de quando em quando não evito em sonhar acordado…
“A família nutre a índole e a educação de seus integrantes. Porque ela é a argamassa indispensável para moldar o caráter e aprimorar em cada um de seus descendentes o amor pelo trabalho e a dedicação respeitosa pela Pátria!”
Edson Vidal Pinto
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