Saudades do Terno e da Gravata
Ah, quando terminar a pandemia e eu puder sair da reclusão social a primeira medida que tomarei será abrir a porta do guarda-roupa, tirar um bom terno, vestir, escolher uma gravata que combine e sair de casa. Não sei aonde irei, não importa porque estando de terno parece que estou vestido e sempre pronto para enfrentar a faina do dia.
Sei que não é do gosto de muitos, principalmente de um magistrado aposentado, no entanto é uma indumentária que vesti ao longo de quase toda a minha vida que sinto saudades. Parece uma tolice não é mesmo? No fundo eu acho a mesma coisa, mas cada um tem a mania que gosta. Fui de um tempo que nas comarcas do interior o Juiz, o Promotor e o gerente das Casas Pernambucanas sempre usavam gravata, hoje ao que parece, acho que só o gerente continua usando.
Não, não é nenhuma crítica a ninguém, mas que o uso adequado de um terno e gravata, por mais simples que seja valoriza o ambiente de trabalho e dá um certo ar de respeitabilidade, isto dá. Sei que muitos estarão pensando: “É mas a roupa não faz o homem!” e eu completo “mas ajuda!” Exemplo? Experiente pedir um empréstimo para o gerente de qualquer banco vestido de bermuda, camiseta e chinelo de couro.
Você vai ganhar é uma bela banana. Pois, é. Nesta época de isolamento social assisti pela internet uma sessão do Tribunal Pleno do TJ, que é composto por todos os desembargadores da Corte de Justiça, cada qual em sua própria casa quando deparei que um deles parecia na tela que estava de pijama e tinha acordado naquele momento. Ficou chato para uma sessão exigentemente formal. Também assisti uma sessão de uma Turma de julgamentos do STJ, via internet, em que um ministro além de desalinhado e de camiseta ainda lixava ostensivamente suas unhas, como se estivesse num salão de barbeiro.
Sei que os tempos são outros e o formalismo está sendo varrido para baixo do tapete, pois não existe mais o mínimo respeito pelo princípio de autoridade e qualquer criança chama as pessoas mais idosas de “você”. E os pais acham normal e os avós não podem corrigir sob pena de serem considerados retrógrados. Claro que vivemos na época do jeans que começou no velho oeste americano e se expandiu pelo mundo todo, menos na Coreia do Norte. Lá o Kim manda matar quem se atrever a usar.
Mas é o traje obrigatório em quase todos os eventos e lugares por ser a roupa que não precisa passar, nem lavar e se estiver esburacada então é sucesso até nos eventos sociais. Felizmente a moda é o jeans e não a estopa porque seria cômico usar uma calça de estopa, pois esta é um tecido flácido e o traseiro ficaria fofo e aumentaria de tamanho todas as vezes que o usuário sentasse. Enfim eu sei muito bem que cada um usa como indumentária aquilo que gostar porque ninguém tem nada com isto, os tempos são outros e os incomodados que se lasquem. É por tal motivo que vou vestir meu terno com gravata e sair pela rua satisfeito da vida, meu jeans preferido ainda é a velha casimira inglesa que não amassa e nem perde o vinco ...
“A vida moderna é frouxa e sem freios; cada um faz sua própria felicidade. Só que existem certos ambientes que são respeitosos e não permitem liberalidade. Por quê? Para preservar o princípio de autoridade e de respeitabilidade do Estado.”
Edson Vidal Pinto
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