Segredo Revelado.
Sábado, 01 de abril.
Sempre primei em toda minha vida manter silêncio daquilo que vi e ouvi quando o assunto não me dizia respeito. A vida e os segredos dos outros não me interessa, pois cada um colhe o que planta e cada qual tem o direito de ser preservado na sua intimidade.
Passados longos anos vejo-me no dever de romper minha discrição e contar um fato que até este momento eu tinha mantido apenas no acervo de minha memória. Espero que os incompreendidos perdoem o meu longo silêncio e meus amigos não me julguem como Pilatos. É que minha fraqueza humana aflorou dentro do meu peito e não consigo mais ficar calado.
Queira Deus que a leitura deste texto não abale e nem se preste como trampolim para levar alguém procurar um psiquiatra. Cautela, pois! Tudo aconteceu por acaso, eu estava em um navio fazendo um cruzeiro pelas ilhas gregas, quando chegamos ao Porto de Creta para conhecer uma ruína histórica que foi antigo palácio do rei Praxedes I.
Nada demais. Ruína é ruína em qualquer lugar, um monte de pedras sobre pedras, com algumas colunas góticas em pé e uma distante da outra. Mesmo assim resolvi tirar fotos para um dia lembrar que tinha pisado sobre aquelas pedras. Foi então que deparei com ele, sentado no chão, conversando com um magrelo que só agora descobri que era a Odebrecht.
Sem querer, querendo, me aproximei dos dois e ouvi parte da conversa:
- Você garante a verba eu garanto o Maracanã todinho!
- Só...
- Claro que não, você vai construir muitas coisas na Venezuela, África e por aí a fora. Com o BNDS à sua inteira disposição!
- Topo! Por quanto?
- Vou subir um pouquinho mais, cada conferência minha você deposita três milhões e uma pequena doação para minha fundação...
- Negócio fechado.
- Vamos então celebrar com mais alguns goles da purinha que está no meu bolso ?
- Pra mim, um golinho basta!
Eu acabara de presenciar uma cena de legitima falcatrua no solo grego! Com medo das consequências só hoje me atrevo contar sobre aquela reunião. E não importa que eu seja convocado para testemunhar no processo da Lava Jato, chegou a hora de sair do anonimato para servir com destemor o meu país.
Não importa que amanhã eu seja perseguido por sindicalistas e comunistas de plantão, nem pela Voz Operária composta por burgueses, eu vou contar toda verdade. Tanto é minha disposição de vontade que até vou registrar a data deste meu testemunho que torno público: 01 de abril!