Sem toga e nem beca
Nas comarcas do interior do estado do Paraná a vida dos juízes e promotores de Justiça não se resume apenas na atividade forense. É comum a prática de esportes. Sempre tem um campo de gramado ou areia para o bom o futebol. Nestas ocasiões quando despem a toga ou a beca aparece a figura do desportista, nem sempre com a intimidade com a bola. Vale mesmo o exercício físico. Alguns até dominam a "gorduchinha" com certo trejeito de craque. São as exceções. Cada momento se presta para a confraternização e afastar o estresse das atividades forenses. Eu mesmo aproveitei nas minhas estadas nas cidades para fazer bons amigos na convivência do grupo destas "peladas".
Em Umuarama os jogos eram realizados na chácara do juiz Dr. Joel Pugsley, localizada na rodovia que liga Umuarama a cidade de Guaíra. Como na região noroeste o dia demora a escurecer, os atletas chegavam na chácara por volta das 18 horas, a partida terminava as 19h30 quando a bola era difícil de ser enxergada. Depois nós atravessávamos o outro lado da rodovia, onde tinha um quiosque, para tomar garapa e comer o melhor pastel de carne de toda a região. Os jogos de futebol aconteciam nas quartas-feiras e nos sábados à tarde. Momentos que vivem na lembrança.
Em 1980, quando cheguei em Curitiba, participei do CPLA. Esta sigla representava um grupo heterogêneo de profissionais de várias áreas e profissões e que era capitaneada ditatorialmente pelo primeiro e único chefe do mais antigo grupo de "peladeiros" de final de semana: o procurador de Justiça Dr. Antero da Silveira. A tradução da sigla era "Clube dos Profissionais Liberais do Antero". Faziam parte do grupo os desembargadores. Adolpho Kruguer Pereira, Plinio Cachuba, Jorge Andriguetto; os juízes Theodoro Cruz Neto, Edgard Winter, Noeval de Quadris, Lorni Zaniolo, Michel Elias Farhat Neto, Eduardo Fagundes; os promotores de Justiça Joel Carneiro da Silva, Rene Kravetz, Dirceu Cordeiro, Lourival Leite Bastos; os médicos Israil Cat, Octávio da Silveira Filho, Marlus Ferreira, Guilberto Mingueti, Afonso Antoniuk, Piá de Andrade, Gérson Gebert, Newton Carvalhal dos Santos, Luiz Ernâni Madalozo; Rubens de Conti, Arthur Kummer; os advogados Eduardo Rocha Virmond, Marival Carvalhal dos Santos, Osmar Dargel; o empresário Roemi Piguel; e tantos outros que a memória sem querer omite. O campo de areia estava localizado nos fundos do Palácio Iguaçu no Batalhão da PM que serve a Governadoria. Os jogos eram realizados todos os sábados à tarde com sol, chuva ou geada. As disputas eram acirradas e as fidalguias nem sempre lembradas. Certo dia, o então governador Jaime Canet Jr. resolveu despachar no Palácio. A sala do governador está bem próxima do campo de pelada. Ele resolveu abrir os janelões para entrar ar puro no gabinete. E passou a ouvir besteiras vindo dos atletas que disputavam a bola como se ela fosse uma raposa perseguida por cães ferozes.
- Coronel! Ponha um final nessa bagunça!
O militar dirigiu-se até a cancha para cumprir as ordens dadas, porém reconheceu a maioria dos jogadores. Meio sem graça, cumprimentou uns e outros e voltou ao gabinete do governador. Este quando viu o coronel voltar e continuou ouvindo os mesmos alaridos vindo de fora questionou:
- O senhor não cumpriu minhas ordens, por que ?
O oficial declinou ao governador alguns nomes que estavam jogando na cancha do Batalhão. Ele como bom estadista pensou um pouco, colocou as mãos no queixo e disse:
- Fechem os janelões e liguem o ar condicionado. Temos muito trabalho para fazer!
Este foi um de tantos episódios ocorridos no campo dos fundos do Palácio Iguaçu. Os encontros terminaram naquele local quando o prefeito Rafael Greca resolveu ampliar o espaço público externo que dá na rotatória do lado do prédio, acabando com a cancha esportiva. Os jogos continuaram em outro Batalhão da PM, aquele localizado no terreno da Penitenciária do Ahú. Palco de inúmeros outros fatos pitorescos. Não faltará oportunidade para contar em outra ocasião.