Sempre Alerta!
Sábado, 11 de março.
Dia de esquecer um pouco dos problemas do cotidiano e mergulhar nas trilhas do passado. A memória é o baú que guarda as boas e, mas lembranças de tempos pretéritos. E como hoje é um dia diferente me deixa levar pelo tapete mágico de minha memória quando o espírito de aventura rondava minha juventude.
Lembro como se fora hoje à parada cívico-militar na Avenida Cândido de Abreu, Centro Cívico, para festejar a chegada do Presidente de Portugal Craveiro Lopes em Curitiba. Os prédios públicos dos três Poderes tinham sido recém-construído, o povo estava presente e lotava a região, pois era comum prestigiar os grandes acontecimentos. O espírito cívico e a disciplina civil fazia parte da educação da sociedade. Meu pai levou a família para participar. Eu tinha oito anos e vi pela primeira vez os escoteiros, com seus uniformes de cor caqui e chapéus de abas largas desfilarem com garbo e elegância.
Eram meninos e rapazes unidos pelo espírito de aventura e com vontade de servir o próximo. Nunca me esqueci daquela cena e com dez anos entrei no movimento escoteiro fundado pelo inglês Lord Baden Powell. Acompanhado por meu pai ingressei no Grupo Escoteiro Jorge Frassati, cuja sede estava localizada ao lado da Igreja do Senhor Bom Jesus, na Praça Ruy Barbosa. A chefia era composta de professores do Colégio Bom Jesus e frades Franciscanos da Paróquia.
Na ocasião a Tropa era composta de mais ou menos quarenta adolescentes, aprendíamos tudo de cidadania, arte mateira e praticávamos jogos indispensáveis à socialização e respeito ao próximo. Saber ganhar e perder fazia parte do aprendizado. Quando usei a primeira vez meu uniforme realizei o meu sonho de menino. Ninguém era mais feliz do que eu! Na época o escotismo atraia os rapazes porque a atividade no campo e ao ar livre era uma das poucas opções da juventude, não existia brinquedos eletrônicos, a televisão era insipiente, e o custo de vida não permitia viagens e nem férias em grupos.
As reuniões ocorriam no sábado à tarde. Atrás da Igreja e ao lado de uma grande horta de verduras cultivado pelos frades, também tinha um campo onde escoteiros e frades disputavam os mais variados tipos de jogos. Os religiosos com mais idade e de físico avantajado não perdoavam e nem amoleciam para ninguém, o que tornava as disputas mais animadas. Único momento em que diminuíam o ímpeto da disputa era quando o Superior do Convento frei Osório, assistia por alguns minutos os jogos.
Pelo menos uma vez por mês a Tropa saia para acampar. Algumas vezes saíamos a pé e outras pegávamos o ônibus de linha que saia da Praça Tiradentes, com barracas e outros apetrechos de cozinha em direção ao bairro de Santa Felicidade. A "estrada" era de macadame e levava mais de uma hora o percurso inteiro. Quando o acampamento era no Km 4 o ônibus parava onde hoje é o portal de Santa Felicidade, pois o local era o bosque dos fundos do Parque Barigui. Mas quando era no Km 8 tinha que passar Santa Felicidade até uma mata que existia atrás do Restaurante Veneza.
Era uma senhora viagem. Uma vez cada semestre embarcávamos de trem até o Marumbi na Serra do Mar para escalar o Olimpo ou o Abrolhos, dois pontos culminantes da montanha. Época de aventuras e despreocupações, de amizades juvenis que perduraram ao longo dos anos e que serviram para forjar a tempera e o amor a cidadania.
O lema "Sempre Alerta" inspirou gerações de meninos e rapazes que como eu ainda tem no espírito e na formação de cidadão o propósito de "servir" o próximo, a sociedade e o país. As aventuras foram tantas que faltaria espaço para relatar. O importante é que ainda hoje alguns daqueles antigos escoteiros ainda se reúnem para lembrar-se dos verdes anos e cantar músicas entoadas nos acampamentos e nas jornadas que vivem em nossas saudades. Lembrando também daqueles que hoje são estrelas no céu!