Será Verdade?
Inverno Curitibano! Daqui menos de uma semana começará o verão!! Este é o nosso clima da terra de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, a capital das quatro estações do ano em um mesmo dia. Dias atrás sai de casa de manhã bem agasalhado porque o tempo estava fechado e um ventinho chegava a cortar a pele, pouco mais de duas horas o sol apareceu e eu tive que "descascar" a roupa que vestia: primeiro tirei a manta que protegia o pescoço, depois o casaco e por ultimo o pulôver. Só não tirei o gorro que tinha na cabeça porque não tinha como segurar nas mãos. Eu parecia um brexó ambulante!
De repente começou a chover e os pingos que caiam pareciam gotícula de gelo, coloquei o casaco e fiquei segurando o pulôver e a manta. Porém, entre uns pingos e outros o meu casaco ficou úmido, resolvi colocar sob o mesmo o meu pulôver.
E quando a chuva parou ficou garoando com um ventinho vindo lá do mar, foi quando aproveitei para colocar a minha manta no pescoço. Tudo ia muito bem quando o sol deu o ar da sua graça, ele espantou a fina garoa e o vento desapareceu.
Voltei a me tornar um brexó ambulante em plena Rua das Flores! Sei que ninguém me olhava pois todos ali eram iguais, cada um levando nas mãos os agasalhos que mereciam . Afinal todos nós estávamos em Curitiba! Dei graças por não existir mais a galocha e nem a polaina.
Enquanto eu caminhava absorto, não há de ver que aquele ventinho do mar foi voltando aos poucos? No início gelou minhas orelhas, depois o nariz e finalmente senti frio nas mãos e no meu peito. Claro: chegou o momento de vestir o que eu levara, peça por peça. Um ritual tipicamente Curitibano.
Parei em baixo de uma marquise de loja para me recompor. Foi neste exato instante que alguém bateu no meu ombro e quando me virei, dei de cara com o Godofredo. Este foi meu colega do Grupo Escolar Alba Guimarães Plaisant, anexo do Instituto de Educação do Paraná, localizado na rua Emiliano Perneta. Sujeito bom como poucos, mas gozador e irreverente como nenhum outro.
Ele logo falou:
- Oh! Fariseu! Quanto tempo que não lhe via, pensei que você já tivesse ido desta para pior !
- Vire essa boca pra lá! Respondi. Eu estou bem e você?
- Estou indo de mal para pior!
Chateado com a resposta, insisti:
- Meu amigo, o que foi que aconteceu?
- Tudo de ruim e do pior que poderia ter me acontecido.
Fiquei preocupado. Foi daí que ele arrematou:
- Pô! Não estou em nenhuma lista dos Oldebrech!!! Quer desgraça maior para um brasileiro desempregado?
Tive que rir. Ele até falou uma verdade, quantos trabalhadores que estão desempregados e passando necessidade não gostariam de ter seus nomes mencionados nas dezenas de delações premiadas? Não seria um prêmio verdadeiro? Nem pude curtir mais a conversa filosófica do meu amigo Godofredo, pois começou a chover novamente e o vento começou a soprar os pingos da chuva em direção a marquise. Nos despedimos rapidamente e cada qual tomou seu rumo. Voltei para casa e nela cheguei todo encharcado. Troquei de roupa e sentei na minha poltrona favorita. Olhei pela janela e vi um clarão do luar como réstias de cristais de luz entrar para dentro de casa. Dei graças a Deus por estar abrigado e no aconchego de meu lar. Nada mais poderia acontecer. Liguei a TV. Logo veio o primeiro espirro, em seguida o segundo, logo depois o terceiro, o quarto e assim por diante.
Minha garganta começou a arranhar, senti um arrepio de febre. A gripe começou a tomar conta do meu corpo. Logo me resignei com a real situação, pois quem mora em Curitiba sabe muito bem que a gripe é mero resultado do tempo de nossa cidade. Desliguei a TV e fui para a cama.
Só não entendo até hoje porque dizem que Curitiba é "a cidade sorriso"? Será que ela é como o meu amigo Godofredo? Gosta de tirar "sarro" de seus habitantes? Até pode ser: pois alternando tempo bom e tempo ruim, chuva e frio ao mesmo instante, deve ser engraçado ver o tira e põe de roupas de sua gente. Eu mesmo chego a rir, para não chorar!