Sociedade Discreta.
Como é bom ter amigos de verdade, aqueles que nem sempre estão ao nosso lado, mas que nos procuram quando mais precisamos. E não é preciso uma convivência muito próxima, pois mesmo distante existe um elo invisível de empatia do qual ninguém esquece.
Tem amigos que às vezes valem mais do que parentes consanguíneos, pois não raras vezes ouvimos a expressão de que família feliz e unida só mesmo nas fotografias de porta-retratos, em cima da cristaleira. Claro que é uma frase exagerada, mas que tem certo timbre de verdade. Seria triste viver sem amigos, pois a vida perderia a graça.
Depois de longos anos reencontrei um deles no Facebook, amizade gerada no ambiente de trabalho no fórum de Umuarama, quando lá trabalhávamos como Promotores de Justiça da comarca. Eram cinco Promotorias de Justiça para cinco Varas com cinco Juízes: duas cíveis, duas criminais e uma de Família e Menores. Éramos somente três Promotores titulares, eu (2 a. Vara Criminal), Antônio Saul Benedetti Maggio (1a. Vara Criminal) e Benito Italo Pierri (Varas Cíveis e família), pois dois outros colegas Joubert Gonzaga Vieira (falecido) e Félix Fisher estavam designados em outras comarcas.
E contávamos sempre com a ajuda eficiente de Saulo Ramon Ferreira, que era o Promotor Substituto da Secção Judiciária. Foi um dos melhores ambientes de trabalho pela afinidade que existia entre todos os Juízes e Promotores, sendo os Magistrados da comarca: Joel Pugsley (diretor do fórum), Aroldo Glomb, Luiz Carlos Lins Santos (falecido), Leonardo Pacheco Lustosa (Airton José Saldanha e Maria Homi Kinashi), Milton Alceu Etzel (falecido) (Edison Luiz Trevisan) e o Juiz Substituto Dimas Hortêncio de Melo. O trabalho era árduo e gigantesco, pois tinha mais de setenta advogados militando na cidade.
E foi no início de uma noite, nos idos de 1.978, que o Maggio entrou no meu gabinete de trabalho e começou a me fazer varias perguntas e dentre elas se eu acreditava em Deus:
- Lógico -foi minha resposta. Parecia que ele estava querendo saber um pouco mais da minha vida que ia além da amizade que tínhamos. Depois de muitas outras sondagens ele me perguntou:
- Você gostaria de participar de uma sociedade discreta?
- Discreta? Como assim? - Perguntei surpreso.
Ele com serenidade esclareceram:
- É uma entidade que agrega homens “livres e de bons costumes” e que fazem muita benemerência, só que nunca anunciam para terceiro estes suas ações. É por isso que ela é “discreta”. E como você crê em Deus e professa uma religião, é o suficiente para nós admiti-lo em nosso meio.
Você aceita?
- Aceito!
E desde aquela época pertenço a essa sociedade fraterna que agrega amigos que chamamos de “irmãos”. E o Maggio é um desses irmãos que respeito e quero muito bem, dele ganhei um presente para toda minha vida.
Agora ambos estamos aposentados da vida publica: ele como Procurador de Justiça residente com a família na cidade de Londrina e eu, como desembargador, vivendo em Curitiba, minha terra natal.
Embora distantes, um nunca se esqueceu do outro e só viemos nos encontrar através deste espaço eletrônico. Mas não faltará um encontro pessoal, com certeza quase absoluta, para nos confraternizarmos com nossas famílias e lembrar-se de nossas peripécias profissionais.
Enfim, tudo isso me motivou para escrever esta crônica que fala sobre a amizade e a fraternidade, sentimentos que sobrevivem os percalços e as distâncias, que não tem idade e nem tempo de duração. Só mesmo um Grande Arquiteto do Universo para unir homens e espargir partículas de amor fraterno e amizade imorredoura...
“Na vida temos o livre discernimento para escolher os caminhos que vamos percorrer. Nenhum é igual ao outro, porquê em cada encruzilhada, uma nova opção. Saber qual o melhor deles só quem pisa firme e encontra um amigo para servir de apoio.”
Edson Vidal Pinto