Sociedade Operário
Num antigo casarão pintado de branco funcionava a todo vapor a “Sociedade Protetora dos Operário” também conhecida por “Opera Rio”, onde moça de família não frequentava e nem cidadãos de respeito.
Quanto a estes era o que os outros pensavam porque muitos prestigiavam os famosos bailes que uniam em pares gente fina e da periferia curitibana. Seu presidente de sempre era o famoso “Tatu” e o clube era vizinho do Palácio da Cúria Metropolitana e fora construído no Alto de São Francisco, onde um belvedere era atração turística. O arrasta pés era todo final de semana e faltava espaço para tanta gente.
Os homens faziam fila e pagavam para entrar e para as mulheres o acesso era gratuito. As mais salientes e ousadas “secretarias do lar” eram habitués do local. O ponto alto era o carnaval do Operário e na segunda-feira o famoso e imperdível desfile de fantasia dos travestis onde a frequência era máxima e a torcida aplaudia a sua “preferida” freneticamente.
Muita gente da alta sociedade entrava na folia para assistir na galeria, sempre mas todos disfarçados com fantasia que cobria da cabeça aos pés ou atrás de máscaras carnavalescas para não serem conhecidos e nem fotografados para saírem nas páginas da “Tribuna do Paraná”. Época em que gay era muito raro de aparecer em publico. Foi pensando nessa tradicional Sociedade que, não existe mais , que me ocorreu contar um episódio acontecido com colega muito querido do Ministério Publico.
Claro que vou preservar o seu nome por motivos óbvios. Quando estudante universitário ele participava tocando guitarra numa banda musical que animava bailes da cidade, sendo também um exímio violonista. Quando passou no Concurso Publico de ingresso na Carreira como Promotor de Justiça Substituto foi desde logo nomeado para atuar em Comarcas do interior do estado. Evidente que deixou a música de lado e afastou-se da banda.
E para ele a vida continuou e com a família constituída as vindas para Curitiba só ocorriam nos períodos de férias forense para rever familiares e realizar viagens à praia. Passado quatro anos depois de ingressar no Parquet ele chegou de férias e no cair da noite de um sábado, quando trafegava de carro no Alto São Francisco com a mulher e filhos viu uma faixa colocada na frente do Clube Operário anunciando que sua ex-banda estava abrilhantando o baile daquela noite.
Saudoso para rever seus amigos estacionou o carro nas imediações e disse para sua mulher esperar uns minutos que ele iria entrar no baile só para rever e abraçar seus amigos e que logo retornaria. Ela aquiesceu e ele afoitamente se dirigiu para a entrada do clube sem respeitar a fila de marmanjos que queriam ingressar no recinto.
Na porta de acesso estavam dois seguranças que pareciam dois armários de gravata, tendo um deles impedido que o Promotor entrasse:
- Moço. - falou o um dos armários - Não pode furar a fila e sem ingresso ninguém entra !
O Promotor então meio sem jeito por ouvir as pessoas da fila reclamarem e fazerem gracejos pela sua ousadia, não pensou duas vezes e tirou do bolso da camisa a sua carteira do MP, contendo a insígnia de metal com as Armas da República, e respondeu:
- Sou Promotor e quero entrar …
- Negativo “seu” doutor, aqui assim o senhor não vai entrar mesmo!
Nem Juiz que só solta a gente deixa entrar ! Com carteira de autoridade só entra mesmo é delegado de polícia que manda prender e prende…
A turma da fila ouviu e aplaudiu entre impropérios e risos sarcásticos.
Foi daí que o Promotor já desistindo de entrar fez um desabafo para o porteiro:
- Putz, eu só queria entrar para rever meus amigos da banda que não vejo há alguns anos !…
Então o seguranças franziu o senhor e perguntou:
- Então o senhor também é músico ?
- Sou .- respondeu o ex-guitarrista.
- Ora, ora, por quê o senhor não falou antes ?
- ?
- Porquê músico entra sem pagar e nem precisa ficar na fila, mas Juiz e Promotor sem pagar ingresso jamais !!!
E assim meu amigo entrou na Sociedade e os que estavam na fila antes agitados e atentos na conversaram, ficaram calados …
“Dar carteiraço e dizer a famosa frase “sabe com quem está falando” só mesmo as pessoas medíocres usam deste expediente. As vezes dizer que é músico vale como passaporte para ser bem aceito em qualquer ocasião e lugar.”
Édson Vidal Pinto