Sombras de Setembro
É sabido que o pescador é um homem que por ter a experiência adquirida do mar aprende desde cedo a ler os sinais do tempo para poder enfrentar com segurança o seu trabalho diário. A leitura começa pela avaliação da força do vento, traduzir a coloração das nuvens, decifrar as ondulações das ondas e tudo isto conjugar com a noção exata do vai e vem das marés. Só depois ele coloca sua frágil canoa n’agua, iça a vela, sem esquecer o remo e sai pelo mar aberto esperando que a sorte lhe privilegie.
Pois é, saber ler os sinais de tudo que nos cerca possibilita nos dar uma noção dos acontecimentos e exata extensão do nosso presente e futuro. Nesta crônica convido o leitores para que juntos possamos tentar compreender o momento que vivemos num país de extensão continental e mil dificuldades para alcançar o progresso. Vamos usar apenas da observação e da visão histórica e claro da tentativa de enxergar atrás dos bastidores dos fatos.
E vamos partir da divisão - ou alguém dúvida que somos uma Nação dividida entre “nós” e “eles” -, com uma ideologia castradora servindo de mote e com a licenciosidade dos hábitos e costumes corroendo o pilar da sociedade que é a família. Um prato cheio para derrubar a Ordem Pública e os primados da Democracia. Assistimos atônitos a desarmonia entre os Poderes, a prevalência de uma politicalha sem freios e o Império das Leis sendo pisoteado por juízes de ocasião.
E quando àquele que detém legitimamente o Poder de gerenciar a Administração do Estado e zelar pelas políticas públicas perde a governabilidade, logo aparecem os piores dentre os piores opositores para querer ditar os rumos do país. Evidente que o nó histórico foi dado quando na Independência de Portugal a Colônia se manteve unida e compôs uma federação de estados, tornando impossível governar um país gigante. Erro histórico impossível de ser corrigido com simples conversa ao redor de uma mesa pois falar em Confederação de estados-membros é acender o estopim de uma guerra civil.
Tal como aconteceu nos Estados Unidos. Em suma : acho que está delineado o suficiente as causas da crise brasileira. Vamos deixar de lado o nicho da corrupção, da fragilidade moral de muitas autoridades públicas e a ausência de participação política das pessoas de bem, por serem fatores que ajudam a recrudescer a crise mas estão no contexto dos itens anteriormente citados.
E agora José ? E agora setembro está chegando com muitos prenúncios e alegorias incutindo uma certa dúvida no ar sobre o que acontecerá depois da parada militar do dia sete. Como somos um país dividido um lado desaprova qualquer virada de mesa que comprometa a democracia e coloque em risco a situação nacional; o outro lado quer a presença dos Militares para colocar o país nos trilhos, fechar o STF, expurgar os corruptos da política e exilar os insufladores amantes de ideologia canhestra. Esta a leitura dos fatos. E o que vai acontecer dependerá da atitude do Presidente da República que embora engasgado nos acontecimentos não dá motivos aparentes de querer decidir sem o apoio popular. A partir deste ponto o epílogo fica por conta da incerteza e da opinião de cada um …
“O futuro só a Deus pertence -, num país conturbado e dividido os sinais dos acontecimentos propiciam apenas a leitura , nada mais.
Pois toda crise é um livro cujo enredo é imprevisível e só termina depois que um dos lados der o primeiro passo.”
Edson Vidal Pinto
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