Tobias, O Carnavalesco da Vila Guaíra.
Foi nos idos de 1.950 que o Tobias pela primeira vez desfilou no bloco “Não Agite”, tocando estridente frigideira no paralelepípedo da rua XV de Novembro.
Época de ouro do carnaval Curitibano. Ele e seus companheiros entre confetes e serpentinas atirados pela multidão que pulava e via o desfile de blocos, vivia nas festas do Rei Momo os seus momentos de maior alegria. Hoje, com o corpo carcomido pelo tempo, vive de recordações e quando tem uma caixa de fósforos nas mãos, peça de sua coleção, bate nela com os dedos e tira sons ritmados que lembra de leve o batuque do seu querido samba.
E como não poderia deixar de ser não esquece nunca da figura saudosa do Dr. Cadilhe. E por que me lembrei do Tobias? Porque daqui alguns dias começa o carnaval. Longe de ser a festa de outrora, pois o Curitibano prefere descer ao litoral a ficar assistindo o pobre Rei Momo pulando quase sozinho no meio de seus poucos súditos que insistem em manter a tradição. E pensar que tem os “blocos” dos Zumbis e das Vadias; espetáculos criados pelos novos tempos, que de carnaval não tem absolutamente nada.
Mesmo assim atrai um pequeno público da periferia, sequioso por festas e farra. E quem não vai à praia para ouvir o som estridente e inaudível do trem elétrico e fica em casa assistindo TV, esquece que o carnaval existe. Não dá para assistir às escolas de samba do Rio e de São Paulo desfilarem na telinha, porque é demorado e cansa. Muito menos tentar ver o carnaval da Bahia com seus cantores em cima de trios elétricos e seguidos por uma multidão de pessoas suadas e agarradas umas nas outras como centopeias. Espetáculo fétido e bárbaro.
E nem as transmissões dos bailes de fantasia repletos de gays e lésbicas atraem a curiosidade dos telespectadores, por não ser mais novidade essas pessoa por fazerem parte do cotidiano. O carnaval perdeu a graça.
As marchinhas mais divertidas não podem mais ser cantadas porque são tidas como ofensivas: “Nega do Cabelo Duro” é crime racial com direito a prisão quase perpétua; “A Cabeleira do Zezé” tem conotação de discriminação, pois toda pessoa pode optar pelo sexo que quiser; “Zé Corneteiro” pode, porque menosprezar os militares não está no rol da censura socialista; enfim, pode cantar músicas do Pablo, Caetano, Gil, Buarque e todos os demais defensores do Lulapetismo que ninguém reclama só que nada tem a ver com o carnaval.
Mas que pode, pode! Fico imaginando o que deve estar pensando sobre tudo isso o velho Tobias, o incansável “pé de samba” da Vila Guaíra, um verdadeiro Curitibano com trejeitos de bom carioca, de fala mansa, sempre cortês e educada. Não deixei passar a vontade e resolvi telefonar e perguntar. Peguei a caderneta de endereços e logo deparei com o nome do Tobias e o número de seu telefone.
Será que ele vai lembrar-se de mim, faz tempo que nós não nos vemos e nem conversamos. Mesmo assim, arrisquei:
- Alô.
- É da casa do Tobias?
- Sim...
- Ele está, por favor?
- Não.
- Ele saiu?
- Sim, ele morreu!
Fiquei mudo e calado. Deixei passar o susto e perguntei:
- Quem fala?
- A viúva do Tobias...
- Desculpe-me...
- Queria alguma coisa?
- É... Eu gostaria de saber do falecido o que ele estaria achando do atual carnaval, infelizmente a pergunta ficou sem resposta, cheguei tarde demais...
- Em absoluto: ele deixou expressa sua opinião no testamento que ele fez.
- A senhora lembra o que ele disse?
- Tudinho.
- Pode repetir, por favor?
- Claro, ele disse que o carnaval de hoje é uma grande &$@?!/!$)@/$&!&$)(;/@&$?!@$&(;:@&$$&?!(/“@& ...
Nem esperei a viúva terminar de falar e coloquei o telefone no gancho. Minhas mãos tremiam e enquanto eu riscava o nome do Tobias da minha caderneta, senti um pingo de suor escorrer pela minha espinha. Ufa, que mico eu paguei pelo meu atrevimento! Carnaval? Deixe pra lá ...
“Num país em que a libertinagem prolifera e tudo sexualmente falando é permitido, o carnaval perdeu a graça. A nudez e a licenciosidade às escâncaras faz com que todo o dia seja carnaval. A festa em si, minguou.”
Edson Vidal Pinto