Tragédia Anunciada
Nos países desenvolvidos os ricos moram nos morros e montanhas bem ao inverso do que acontece nos países pobres. Por quê? Porque nas regiões quentes morar quanto mais alto a qualidade de vida é melhor porque o clima é ameno e torna o verão aprazível.
Claro que construir em região montanhosa antes de tudo é feito rigoroso estudo do solo e do próprio meio ambiente a fim do proprietário se precaver de eventuais danos que a natureza possa causar. E o custo é alto para estas pessoas por isto morar nas alturas é privilégio para bem poucos. Mesmo assim pode ocorrer deslizamento de terra e perigos naturais imprevisíveis.
Nos países pobres e cujas cidades são montanhosas ocorre o inverso : são os pobres que moram nos morros por serem áreas sem dono e próprias para ocupações irregulares. Melhor exemplo entre nós ocorre na cidade do Rio de Janeiro em que os excluídos habitam os morros, tendo uma visão invejável da Cidade Maravilhosa, tem o melhor clima para suportar a canícula de verão, porém em razão da precariedade de suas moradias, falta de saneamento básico e conhecimento do solo vivem numa corda bamba com o perigo de uma tragédia sempre presente.
É por isto, também, que a família Imperial morava no Rio mas na época do verão passava longos períodos nas regiões serranas do estado como em Petrópolis e Teresópolis. Hábito cultivado pelas famílias abastadas após o advento da República.
Só que os ricos ocupam áreas de menor risco preferindo ficar longe das elevações porque o clima em razão da altitude já é satisfatório em qualquer lugar. Daí porquê os pobres foram viver nas encostas assumindo o risco de deslizamentos pois residir em condição precária em encosta de morros é apostar com a morte.
Com a chuva torrencial que caiu em Petrópolis a cidade literalmente foi inundada e os morros vieram abaixo, arrastando tudo o que estava a sua frente. Uma tragédia mas com precedentes porque outras já aconteceram na região. Número incerto de vítimas, caos urbano e social. Culpa de quem ? Só da natureza ? É claro que não : a maior parcela de responsabilidade cabe aos administradores públicos (Municipal e estadual) porque concorreram omissivamente por não adotarem política pública capaz de evitar o ocorrido. Como ? Por admitirem que famílias ocupassem área de risco sem adotar medida coercitiva aplicável na espécie. É para esse tipo de interferência na vida dos indivíduos que o Estado existe, não para impedir o trabalho útil e nem cercear o direito dos cidadãos de ir e vir.
Pois bem, o pior aconteceu pois vidas se perderam e os prejuízos materiais são colossais. E agora ? Ninguém é responsável ? O custo da desídia dos agentes públicos pesam apenas no bolso dos contribuintes ? Eis a questão em que a autoridade pública afasta de si qualquer responsabilidade para continuar absoluto no cargo pomposo que eventualmente ocupa.
Daqui há pouco tempo o poder muda de mãos e a tragédia não passará de um fato lamentável. Situação clássica de um país da impunidade, da irresponsabilidade e do descaso.
E o MP que zela pelo meio ambiente e se diz protetor dos excluídos ? Para construir uma ponte entre Caiobá e Guaratuba coloca mil óbices e age com má vontade -, mas ignora os invasores que ocupam lugares de risco com total prejuízo ao meio ambiente. Atuação ambígua e censurável.
É assim que agem os fiscais da lei que zelam pelo ideológico social e fecham os olhos para as tragédias anunciadas …
“ Viver em zona de perigo é conviver diariamente com a tragédia. Encostas de morros e ocupações em margens de rios não podem ser espaços habitáveis por motivos óbvios. Por quê nenhuma autoridade proíbe ? Porque sabe que a impunidade impera num país de privilegiados.”
Édson Vidal Pinto