Tragédia Na Berlinda
Encontrei o meu amigo Tucides na rua Padre Agostinho, esbaforido, com ar de tristeza, carregando nas mãos um pacote, prestes a embarcar num Uber. Ele me viu, e antes de subir no veículo, veio em minha direção:
-Você soube do trágico acidente? - perguntou quase chorando.
-Qual deles?
-O do Luiz Ignácio …
-Ah, do bebum ?
-Sim, dele mesmo, meu amigo, caiu no banheiro.
-Mas ninguém sabe como ele acabou caindo, nem o médico deu maiores explicações …
-Será que ele mudou a marca da pinga? -arrisquei.
-Pode ser, as vezes o borracho compra uma garrafa de marca diferente e fica mais tonto que idoso para subir em escada sem corrimão.
-?
-Ora, por faltar equilíbrio.
-Pode até ser. Mas e você, Tucides, está indo para onde com este pacote nas mãos?
-Para o aeroporto.
-Vai viajar? Para onde?
-Brasília.
-Por causa do “homem”?
-Não mesmo, por causa da mulher …
-Mulher? Mulher de quem?
-Da mulher do “homem”.
-Da Canja ? - indaguei curioso.
-Da própria …
-Por quê?
-O filho acusou que a mesma não está cuidando do pai; mas eu acho que ela está cheia do velho, tacou mais pinga nele do que de costume, depois mandou ele tomar um banho de chuveiro na esperança que pudesse perder o equilíbrio e bater a cabeça para …
-Pare! Pare Tucides, não diga mais nada. Que besteira você está dizendo. Ficou maluco? Quer ser preso por dizer tanta mentira? Você está imaginando tudo isto, não é verdade?
-Claro que não, foi a Maria Louca que me contou…
-E você ainda acredita nesse cara?!
-Para fato como o que aconteceu com o “homem” lá em Brasília, eu acredito sim.
-Tá, tá bom, você vai à Brasília para quê? - indaguei.
-Para levar este pacote para a “1a. Dama Substituta”.
-Quê “Dama” é esta?
-Pô, não seja chato, para a Canja…
-E tem o quê dentro do pacote?
-Veneno de rato.
-Não acredito…
-Quer ver? Eu mostro…
É claro que não deixei o Tucides entrar no Uber, paguei e dispensei a corrida.
Fiquei algum tempo dissuadindo o meu amigo a não ser cúmplice de um infortúnio (para ele), até que ele acabou admitindo que queria prestar um favorzinho ao povo brasileiro, mas concordou comigo. Abriu o pacote e jogou todo o veneno no bueiro da rua, sendo levado pelo esgoto. Depois nos despedimos e cada um tomou o rumo de sua própria casa. Enquanto caminhava fiquei pensando na maluquice do Tucides e na encrenca que ele iria se meter. Depois de alguns passos até que comecei a achar que a ideia não era má, tinha seus encantos, mas logo minha consciência boa me fez protelar dito projeto. Ufa, meu amigo, felizmente, está salvo.
-E nós?
Olhei para trás e vi políticos do PT, PSOL, PDT e outras siglas filiadas saindo do bueiro, tossindo, quase sufocados em busca de socorro. Gelei de susto. Logo, perguntei para mim mesmo:
-O que essa gente estava fazendo no esgoto ?!?!
A outra voz de minha consciência respondeu:
-Reunião preparatória do Copom para a chegada do novo Presidente do Banco Central …
“Não adianta chorar quando tudo está aparelhado; - do STF ao Banco Central -, então vamos rir e escrever enquanto podemos. E dizer palavras chulas faz parte da brincadeira. E não adianta reclamar. Este é o país da impunidade e da fantasia. Muita pena, pena mesmo!”