Triste Cidade Bela
Ao longo de 17 ininterruptos anos entre o período de 29 de dezembro à 30 de janeiro, então correspondente as férias coletivas do Poder Judiciário, passei com minha mulher e dois filhos na cidade do Rio de Janeiro.
A veneranda e saudosa senhora d. Odete Laporte, proprietária de um apartamento na Av. Nossa Senhora de Copacabana, esquina com a rua Santa Clara bem ao lado da Confeitaria Cirandinha, me alugava o imóvel para deleite de minha família. E bastava andar duas quadras para estar no Posto 6 em Copacabana, área nobre da praia mais famosa do mundo.
O Rio de Janeiro sem nenhuma dúvida era uma verdadeira Cidade Maravilhosa com seus habitantes sabendo viver a vida e os turistas aproveitando sem medo as belezas de uma urbe descontraída e alegre. Dava perfeitamente para andar pela zona sul sem maiores receios de encontrar um trombadinha e, quem sabe, deparar apenas com um malandro vendendo baratinho relógio Rolex nas esquinas para enganar os incautos.
E da Barra até o Pão de Açúcar ou do centro até o Corcovado era possível andar de ônibus de linha sem qualquer sobressalto, não tinha tiroteios em favelas, nem muitos traficantes e até os bicheiros dividiam seus territórios cavalheirescamente. No entanto, na medida em que o tempo passava, dava sentir a mudança comportamental de seu povo quando o governo Brizola mancomunado com os “donos” dos morros e periferias deu ensejo a deterioração de todo o cenário carioca.
A bandidagem começou a tomar conta da cidade e agir acintosamente sem medo. Foi numa manhã de sábado, quando assistia na praia de Copacabana uma tradicional “pelada” na areia com futebolistas dos principais times da ucidade , que senti na própria pele a ação dos marginais.
Eu estava mais próximo do mar para assistir melhor a partida, porque do outro lado no calçadão se aglomerava um grande publico, quando de repente me deu a impressão que a bola do jogo me atingiu em cheio no meu olho direito, arremessando longe o meu óculos e logo senti o sangue escorrer pelo meu rosto.
Quando consegui abrir meus olhos vi um rapaz, de cor negra, baixinho e musculoso, correndo no meio dos jogadores. Fui vítima de uma cabeçada que ele deu na minha testa para possibilitar que seus comparsas pudessem assaltar um turista francês, que estava há mais ou menos uns dez metros de distância. Desde então nunca mais voltei para o Rio de Janeiro. É claro que sempre acompanho com muito interesse e com profunda tristeza a violência crescente daquela cidade que apesar de tudo continua sendo o melhor cartão de visitas de nosso país.
E tenho pena do carioca pela vida tensa que leva numa selva sem lei. Culpa presente do Luiz Edison um sonhador que acredita mais em Marx do que na realidade do cotidiano que está visível na frente de seu nariz. Proibir a polícia de combater o crime nas “comunidades” para privilegiar traficantes é um erro imperdoável de julgamento .
O Rio de hoje está doente e moralmente prostrado em uma UTI. Ouvi ontem pela manhã na Rádio Jovem Pan News uma reportagem dando conta que naquela cidade a cada 5 horas uma criança sofre todos os tipos de violência , de acordo com uma estatística publicada e referente ao ano de 2.021, com igual repetição ocorrida no primeiro semestre do corrente ano. Mas se por um lado a notícia é estarrecedora, de outro também é a causa disto tudo, pois a violência dominante e inescrupulosa de gente que capitaneia o crime induz esse tipo de aberração. As crianças inocentes e indefesas sofrem pela influência do meio porque seu algozes não têm regras e nem freios.
Quantos traumas, quantas vidas desgraçadas refletem tão preocupante estatística com sérios reflexos à sociedade. Nem as crianças tem o direito de brincar e viver a inocência de suas infâncias -, o Estatuto da Criança e do Adolescente se tornou letra morta e se presta apenas e odiosamente para proibir o trabalho de menores. Menor que trabalha ocupa melhor o seu tempo e aprende a arte de trabalhar com um adulto responsável ao seu lado. Infelizmente o Rio de Janeiro vive da aparência de sua exuberante natureza com o seu cidadão oprimido e a mercê de uma violência sem punição. É pena, pena mesmo, mais parece um Rio de lágrimas …
“Toda criança tem o direito de viver sem traumas para aproveitar a beleza da inocência. Aquele que molestar qualquer uma delas deveria ser castigado exemplarmente pelo Estado. Casos em que a Justiça deve ser célere e eficaz.”
Édson Vidal Pinto