Tucides, o insatisfeito.
Conheço muito bem o meu amigo Tucides e sei que ele é um turrão por excelência, gosta de cobrar tudo que achar de errado, discordar só para chatear o próximo e está quase sempre insatisfeito. E com o calor insuportável de Curitiba, sensação térmica imprópria para a terrinha, nesta hora ele deve estar excomungando o velho e bondoso São Pedro por não estar atendendo muito bem o termostato lá de cima, o aparelho divino que equilibra a temperatura destas bandas. Aliás, falando em insatisfação logo me veio à cabeça que todos os seres humanos exalam mau humor quando se sentem prejudicados -, quando faz frio as pessoas sonham com o sol escaldante; mas quando faz sol e esquenta demais logo desejam “aquele” friozinho camarada. O Tucides tem um primo de nome Yolando que é um crítico de carteirinha, pois tem a ousadia de criticar até o Criador ao dizer que a Criatura que Ele esculpiu deveria ter um olho na testa e o outro na ponta do dedo indicador da mão direita, pois se estivesse no cinema assistindo um filme e caísse uma pipoca no chão, ele poderia abaixar o braço em direção ao piso e com o olho do dedo “recuperar” sem nenhuma interrupção o foragido grão de pipoca. Ainda bem que o Yolando está morando no Suriname, bem longe daqui. Pois ter um amigo como o Tucides já é mais do que suficiente. A minha preocupação? Faz dias que não vejo meu amigo e com certeza ele deve estar “aprontando” alguma coisa. Ele não é nem um pouco chegado no calor.
Telefonei várias vezes para sua casa e sua esposa disse que ele saiu ontem de manhã e ainda não retornou, mas com certeza deve estar visitando algum parente ou foi assistir algum jogo do Cruzeiro com a sua torcida organizada. Sei que a sua mulher não se preocupa muito porque o Tucides é movido pelo paixão e ninguém consegue impedi-lo de fazer loucuras. Dizem, vou falar baixinho para o Xandão não ouvir, que ele andou por Brasília no quebra-quebra do dia 8 de janeiro e surrupiou da parede do Palácio do Planalto um retrato do Presidente para servir de alvo no jogo de dardos do pub que frequenta. E o mais interessante: o local agora vive lotado pois todos os habitués querem jogar o dito cujo jogo. Onde estará o Tucides? Só por curiosidade tirei da garagem o meu Fiat, 147, cor laranja Fanta, o mais cobiçado carro do país e resolvi dar umas voltas pelo bairro para ver se encontrava meu amigo. E depois de rodar quase uma hora resolvi entrar no Parque Barigui pois se não encontrasse o Tucides por lá pelo menos eu pararia num carrinho que vende garapa e tomaria um copo de 500 ml desta bebida, bem geladinha.
Estava contornando toda a imensa água formada pelo rio quando avistei bem ao longe um homem, não identificado, vestido de calção, sentado ao lado de umas dez ou mais capivaras, de todos os tamanhos. De repente os animais entraram na água e o homem também, depois de cinco minutos todos voltavam para o lugar de onde saíram. E o homem também. Deviam estar se refrescando do calor. Olhei com mais atenção e pimba, o “rei” das capivaras era o próprio Tucides. É claro que estacionei o carro, saltei e fui em sua direção, feliz por encontrá-lo. Ele me viu e fez um gesto para que não me aproximasse:
- Por quê? - perguntei.- Elas são ferozes ?
- Não, mas não gostam de estranhos …
- Mas e você ? - perguntei.
- Ora, meu amigo eu cheguei ontem de manhã e levei horas para que elas se acostumassem com a minha presença, e agora já somos amigos sem nenhuma restrição.
- É estou vendo, vocês estão se dando muito bem.
- Sim, é verdade - confirmou o Tucides.
- E por quê tudo isso?
- Para poder nadar despreocupado no parque sem medo das capivaras; pois o calor está de derreter …
Este é o meu amigo Tucides, um homem que sabe viver a vida, é amigo dos amigos e algoz dos inimigos, pois com ele não tem nem tempo quente, pois se tiver ele é capaz de viver no meio das capivaras, só para se refrescar no rio Barigui…
“Quem tem um amigo como o Tucides tem mil histórias para contar, pois ele é um arteiro nato. Ele ainda vai dar um “jeito” no país. Como? Isto eu não sei, mas ele prometeu. Vamos aguardar os próximos capítulos.”